L'Enfance du Christ de Berlioz


A Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos vão realizar um concerto de Natal no Mosteiro dos Jerónimos. O concerto vai decorrer no próximo dia 22 de Dezembro, às 21:30h, e é uma co-apresentação do Teatro Nacional de São Carlos com a RTP e o Mosteiro dos Jerónimos.

O programa do concerto é constituído por uma oratória de Hector Berlioz, L’enfance du Christ (A Infância de Cristo), que serve este ano de contraste às mais famosas e reinantes obras de Natal, das salas de concerto, o Messias, de Handel, e a Oratória de Natal, de Bach. O tema da história é o famoso episódio bíblico da perseguição e assassinato de todos os recém-nascidos aquando do nascimento de Jesus, a comando do rei Heródes, e a consequente fuga da “sagrada família” para o Egipto.

Os andamentos que constituem a trilogia sacra L’enfance du Christ não foram compostos originalmente como uma obra singular e indivisível, mas sim como peças separadas, entre os anos de 1850 e de 1854. A Parte II, La Fuite en Égypte, foi a primeira a ser escrita em 1850; na transição de 1853 para 1854, Berlioz acrescentou a Parte III, L’Arrivée à Saïs; finalmente, a Parte I, Le songe d’Hérode, foi a última a ser composta, em finais de 1854.

No dia 10 de Dezembro de 1854, a trilogia completa, como hoje é conhecida, foi estreada em Paris tendo alcançado um enorme sucesso, que foi explicado por Berlioz de uma perspectiva diferente da maioria dos críticos da época. Para estes últimos, o sucesso da obra devia-se a uma completa mudança de estilo e da maneira de escrever de Berlioz (principalmente em relação a La Damnation de Faust, que em 1846 havia sido um fracasso); segundo o compositor francês, esta perspectiva «não tinha nenhum fundamento», encontrando-se a explicação no próprio tema natalício da oratória, que Berlioz defendia «exigir uma música mais “naïf” e delicada» – de um terno sentimento pastoril, como caracterizou Lopes-Graça – e, consequentemente, mais «clara humana e melódica». Berlioz arrematou esta questão, defendendo que «teria escrito L’Enfance du Christ no mesmo estilo vinte anos antes».

Na prática, Berlioz nega principalmente uma evolução de estilo e não propriamente uma “mudança”, visto que o autor considerava esta obra, mais do que um avanço, um regresso ao passado. Por exemplo, ao compor esta oratória, o músico francês refere ter-se lembrado das suas jovens experiências musicais, principalmente como admirador de Lesuer (seu antigo professor). Lesuer introduziu Berlioz neste género sacro, tendo-lhe apresentado as suas numerosas oratórias sobre temas bíblicos, as quais despertaram no compositor um gosto pelo “colorido antigo” e pela simplicidade musical.

À simplicidade e ao gosto antigo da oratória de Lesuer, Berlioz juntou o cariz dramático e o refinamento da ópera. Apesar de L’Enfance du Christ ser apresentado como uma oratória, esta obra sacra tem várias parecenças com o género ópera, principalmente na primeira e na terceira partes. Por exemplo, todas as tentativas de “Heródes”, no sentido de se livrar de Cristo bebé, através do assassinato de recém-nascidos inocentes, são extremamente operáticas. Inclusivamente, Berlioz anotou na partitura várias indicações de “palco”, de modo a tornar mais explícitos os eventos que decorrem na oratória.

Os cantores solistas que vão protagonizar o concerto de Natal nos Jerónimos são a meio-soprano Enkelejda Shkosa, o tenor Stefano Secco, o barítono Daniel Borowski e o baixo Nicolas Testé. A direcção musical é da responsabilidade de Donato Renzetti.

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