"Tenho de conhecer a Madeira depois de ver este projeto"

por Paulo Esteireiro em JM-Madeira

Entre os dias 19 a 22 de abril, tive a oportunidade de participar na 25.ª Conferência da EAS (Associação Europeia para a Música nas Escolas), que decorreu na cidade de Salzburg (Áustria), onde nasceu um dos maiores compositores de todos os tempos: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). É impressionante como a economia da cidade gira em torno da figura de Mozart: festivais de música e concertos; museus; doçaria (o principal produto vendido aos turistas são doces com a figura de Mozart); universidade de artes performativas e audiovisuais “Mozarteum”; etc. Participei nesta conferência com o colega Carlos Gonçalves (investigador integrado do INET-MD e atual presidente da direção do Conservatório-Escola Profissional das Artes da Madeira) e tivemos a oportunidade de apresentar os resultados de uma investigação sobre o projeto “Temporada Artística”, que contou com a colaboração da colega Natalina Santos, investigadora do CIE-UMa e chefe de divisão de Apoio à Educação Artística, na Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia.


Nesta conferência europeia, onde a região já esteve representada por três vezes (Estónia em 2009; Polónia em 2011; e agora Áustria em 2017), é sempre possível conhecer as “boas práticas”, que se realizam um pouco por toda a Europa, e visitar escolas locais, conhecendo assim de perto a realidade de outros sistemas educativos. A Madeira costuma ser a única região portuguesa representada nestas conferências europeias, principalmente por um motivo: é a região que tem o melhor projeto português na área da educação artística no ensino genérico, o que permite a partilha de resultados com interesse ao nível europeu. Por exemplo, após a nossa apresentação, um delegado alemão da conferência referiu que tinha “de conhecer a Madeira, após ver este projeto”. Por sua vez, uma delegada da Áustria convidou-nos para apresentarmos o projeto da Madeira no “1st European Music School Symposium”, que vai decorrer em Viena nos próximos dias 6 e 7 de outubro, onde já estão confirmados investigadores de 18 países, que irão debater em torno do tema “O Futuro das Escolas de Música: Desafios de Hoje e Soluções para o Amanhã”. Este simpósio será organizado pela Universidade de Música e Artes Performativas de Viena, em colaboração com a “European Music School Union” e a “Austrian Music School Associations”.

A regular participação nestes encontros internacionais é importante pelo que se aprende de outros sistemas educativos, mas também porque nos obriga a ter um conhecimento elevado e rigoroso dos dados dos nossos projetos. Ao longo das investigações que realizamos somos confrontados com a necessidade de informações mais exatas e um conhecimento mais profundo dos projetos, o que tem sempre como consequência a melhoria do sentido crítico – quer positivo, quer negativo –, sobre a nossa realidade. Isto enriquece o nosso debate interno e faz com que consigamos ser autocríticos e inovadores todos os anos, sendo parte importante do sucesso do projeto de educação artística madeirense nos últimos anos.

Acima de tudo, contribui para uma cultura organizacional fundamentada em evidências e factos e não em opiniões, presunções e, porque não dizê-lo, vaidades pessoais. E uma

cultura baseada em factos e evidências é mais propícia ao envolvimento de todos porque agrega as pessoas numa discussão mais produtiva e progressista. Quando as informações são poucas ou pouco credíveis cria-se um espaço para facciosismos e sectarismos inúteis, que contribuem para a estagnação das organizações devido a confrontos internos estéreis. Por estes motivos, é cada vez mais essencial para a inovação e o progresso das nossas organizações, uma aposta na investigação e na participação de encontros internacionais que contribuam para o aumento do nosso nível de exigência e de rigor.

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