7 DIVIDENDOS DAS ARTES SEGUNDO DARREN HENLEY

em JM-Madeira


A política cultural e, de um modo geral, a discussão em torno do papel das artes na sociedade tem-se deslocado, nos últimos anos, para a área da economia. Livros como “The Economics of Cultural Policy”, de David Throsby, ou “A Textbook of Cultural Economics”, de Ruth Towse – apenas para citar alguns –, têm dado prioridade a questões de política cultural que enfatizem a sua dimensão económica: o papel da cultura no desenvolvimento territorial; a educação artística na formação de artistas e na criação de um mercado de consumidores culturais; o aumento das receitas através da defesa da propriedade intelectual nas artes; a rentabilização de produtos para televisão e cinema; as artes e o turismo cultural; o novo paradigma do comércio internacional nas artes, num mercado cada vez mais digital; estatísticas culturais relevantes no domínio da economia; etc.
O livro “The Arts Dividend” (O Dividendo das Artes) de Darren Henley, diretor executivo do Arts Council de Inglaterra – um dos organismos públicos com maiores responsabilidades no financiamento de projetos culturais ingleses –, vem no seguimento deste novo clima de debate em torno da dimensão económica das questões culturais. Ao longo de 184 páginas, Darren Henley explora o que considera serem os sete principais dividendos das artes, procurando demonstrar que o investimento na cultura tem retorno, em múltiplos aspetos das nossas vidas. Aqui ficam os sete dividendos, segundo o Henley.
1. “Dividendo da Criatividade” – a criatividade está no centro das grandes obras de arte. A criatividade tem o potencial de mudar os locais e a vida das comunidades para melhor. Para termos uma comunidade criativa é, evidentemente, necessário ter pessoas inventivas, com imaginação e inovadoras. As pessoas criativas precisam de ter oportunidades para desenvolverem os seus talentos, visto que talento há em todo o mundo, mas as oportunidades não. Ou seja, a criação de oportunidades que permitam ter uma comunidade criativa é um dos principais objetivos do investimento público em artes.
2. “Dividendo da Aprendizagem” – o investimento em educação para as artes tem um retorno a longo prazo no aumento do número de pessoas com talento. Este investimento deve ser feito em atividades educativas formais, dentro da escola, e informais, fora do contexto de sala de aula. Os benefícios da educação artística vão muito além do facto de permitir ter uma comunidade artística de excelente qualidade no futuro. Está comprovado que alunos que estudam artes: têm melhor literacia; melhoram os resultados a matemática; melhoram competências cognitivas; têm maiores probabilidades de atingirem níveis académicos superiores, no caso de alunos de classes sociais mais desfavorecidas; têm maiores probabilidades de arranjarem emprego e de ficarem empregados por um período de tempo superior; são mais propensos a participarem em atividades de voluntariado e a serem cidadãos participativos.
3. “Dividendo do Bem-estar” – está comprovado cientificamente que a participação em atividades culturais e artísticas pode melhorar a saúde e o bem-estar. As atividades artísticas aumentam os níveis de felicidade e trazem benefícios ao nível da saúde, em determinados tratamentos. Assim, há quem tenha reforçado que, numa época de crise financeira, as terapias envolvendo práticas artísticas podem ser uma boa alternativa a determinadas medicações, sendo especialmente relevantes estes benefícios nos cidadãos séniores.
4. “Dividendo da Inovação” – numa época em que vivemos uma revolução tecnológica, as organizações artísticas que têm acompanhado as novas tecnologias têm contribuído para um mercado cultural mais digital, desde a criação à distribuição. No entanto, para recolher este dividendo tecnológico, tem de haver um investimento na formação dos agentes culturais para poderem aproveitar e criar oportunidades de participação no novo mercado digital.
5. “Dividendo da Transformação Territorial” – os artistas, as organizações artísticas, os museus e as bibliotecas têm o poder de transformar as comunidades onde se integram, principalmente aquelas que têm tido historicamente poucas atividades e infraestruturas artísticas. Assim, muitos dos programas que procuram revitalizar zonas degradadas ou com pouca dinâmica cultural e social tiveram a cultura no centro dos seus planos de ação. A criação de centros artísticos de excelência permite melhorar a ecologia cultural de uma localidade ou bairro e desenvolver um conjunto de atividades comerciais em redor.
6. “Dividendo do Empreendedorismo” – o investimento em artes traz benefícios económicos, incluindo a criação de emprego e o surgimento de um conjunto de atividades comerciais relacionadas. Atualmente, as organizações artísticas têm conseguido juntar aos financiamentos públicos um conjunto de novos modelos de financiamento, não estando exclusivamente dependentes de subsídios públicos. A gestão de parques de estacionamento, restaurantes, livrarias, bilheteira, donativos, plataformas de crowdfunding são alguns dos exemplos da existência de um financiamento misto e empreendedor nesta área.
7. “Dividendo da Reputação” – a existência de artistas e organizações artísticas de excelência são um fator essencial e demonstrativo do sucesso de uma cidade ou região. A reputação positiva de uma cidade é algo difícil de conquistar e demora muitos anos a alcançar-se. As artes têm um papel crucial na conquista de uma reputação positiva, sendo comum as cidades serem reconhecidas pelo seu trabalho criativo e artístico.

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