Dar oportunidade aos jovens

por Paulo Esteireiro em JM-Madeira


As crianças e jovens estão normalmente ávidos por participar ativamente na vida cultural das suas comunidades. Deste modo, cabe aos agentes culturais e artísticos a criação de condições para os poderem integrar nas suas atividades, existindo na Madeira diversas associações culturais que cumprem com excelente qualidade esse desígnio.
No domínio da educação artística, há um projeto regional que merece destaque por constituir um importante contributo para a integração de crianças e jovens na vida cultura madeirense: o projeto da Temporada Artística, organizado pela Secretaria Regional de Educação, através da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (DSEAM), cuja temporada de 2017 será apresentada na próxima quarta-feira, 18 de janeiro, às 11h00, no Museu da Eletricidade – Casa da Luz.
O projeto da Temporada Artística (TA) é um excelente exemplo de um processo de criação de uma rede de parcerias, em prol da educação artística das nossas crianças e jovens, que são os protagonistas dos cerca de 200 concertos organizados anualmente. Ao longo de mais de uma década, a rede de parceiros da TA alargou-se e envolve atualmente intervenientes de áreas distintas, tais como: autarquias; órgãos de comunicação social; agentes turísticos; escolas; instituições públicas; e equipamentos culturais.
É importante realçar que o estabelecimento de uma rede de parcerias deste tipo é um processo moroso e difícil de prolongar no tempo. Por um lado, só é possível com a existência de confiança entre as partes, o que demora naturalmente o seu tempo. Por outro lado, a sobrevivência de um projeto com muitos parceiros, apenas é possível se for sustentável financeiramente, o que, numa época economicamente difícil como a que vivemos, só acontece se a rede for de baixo custo e benéfica para todas as partes. Assim, o facto de a TA já contar com mais de 10 anos de atividade, é demonstrativo da confiança conquistada e do sucesso conseguido no plano da sustentabilidade do projeto.
O modelo de TA promovido pela DSEAM é igualmente inovador ao nível dos objetivos que promove e da sua organização interna, constituindo, sem dúvida, uma boa prática que poderia ser replicada noutras regiões do país. Para conseguir concretizar este projeto, a DSEAM incentivou a criação de grupos artísticos com alunos, bem como a figura do diretor artístico de cada grupo (um professor que é responsável por todos os aspetos artísticos) e criou um departamento de produção, com a missão de tratar de toda a parte logística dos espetáculos. É este departamento que procura descentralizar os concertos pelos vários municípios da região, escolhendo os melhores locais para os espetáculos, e que trata da gestão dos transportes, alimentação e da promoção dos eventos, em direta cooperação com as autarquias. Há ainda uma vertente administrativa e de procura de melhoria contínua importante no projeto, visto que todos os concertos são avaliados pelos respetivos diretores artísticos e, alguns, pelo próprio público, o que permite uma constante reflexão sobre os aspetos que resultam ou que são menos conseguidos em cada espetáculo.
A cultura de avaliação constante que existe neste projeto tem permitido ainda um conjunto de melhorias, que são lições valiosas para quem pretender organizar projetos semelhantes, nomeadamente: ao nível do repertório utilizado (ao longo dos anos foi ficando claro que, consoante as zonas, há estilos musicais que resultam melhores do que outros); o tipo de espetáculo produzido (os espetáculos pluridisciplinares como óperas, bailados e musicais, que tenham um maior número de elementos em palco, costumam ter maior sucesso); a envolvência de alunos do município onde ocorre o evento é essencial (os espetáculos interativos envolvendo os grupos artísticos da DSEAM, em parceria com as escolas da zona, onde decorre o concerto, estão sempre lotados); quanto maior o envolvimento do município, maior serão as possibilidades de sucesso dos espetáculos junto da comunidade envolvente; ou que o papel da comunicação social é crucial para o sucesso dos eventos. Isto apenas para citar algumas das muitas lições aprendidas nestes 11 anos de Temporada Artística.
Apesar de todas estas aprendizagens, há um fator que se mantém desde o início e que é a pedra basilar deste projeto. As crianças e jovens que têm a oportunidade de participar de forma ativa na vida artística da sua comunidade, ganham um entendimento mais profundo do que é a arte. Acredito que é nossa obrigação criar-lhes as condições para terem estas experiências artísticas que serão importantes para o resto da sua vida.

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