por Paulo Esteireiro em JM-Madeira
Num recente artigo de opinião sobre os rankings das escolas (“O que os rankings não mostram”), João Costa, o atual Secretário de Estado da Educação, defendia que “conhecer a qualidade de uma escola implica um olhar muito mais abrangente, pelo que são precisos mais indicadores e é necessário um olhar sistémico.” No seguimento desta ideia, afirmava que o Ministério da Educação tem procurado disponibilizar mais indicadores – “Percursos Diretos de Sucesso”; “Indicador de Desigualdades”; e “Indicadores por Disciplina” –, mas que ainda existe muito trabalho das escolas que “não tem sido valorizado e que os rankings não mostram”, apesar de ser trabalho “essencial para o cumprimento da missão da educação”. Entre as áreas fundamentais na estruturação dos indivíduos, mas para as quais ainda não existem indicadores, o atual Secretário de Estado da Educação apontou quatro: Inclusão; Mobilidade social; Educação humanista; e Formação artística e desporto. Tendo em consideração a minha formação académica na área das artes, é natural que os cinco indicadores prometidos no título sejam direcionados para a formação artística. De qualquer modo, antes de ir aos indicadores para a formação artística, parece-me crucial ir um pouco à origem do problema: a obsessão patológica pelos resultados escolares nas áreas da matemática, língua materna e ciências.
Sendo naturalmente um defensor da racionalidade, da ciência e da liberdade de opinião, é também evidente que sou um igual defensor da matemática, do estudo da língua materna e da área das ciências. No entanto, um olhar mais aprofundado sobre a educação nos últimos 16 anos, torna evidente que o programa internacional de avaliação dos estudantes promovido pela OCDE (PISA – Programme for International Student Assessment) – centrado nos resultados a Leitura, Matemática e Ciências –, teve algumas consequências não intencionais negativas, como salientou Rui Vieira Nery, na abertura do V Congresso de Educação Artística (2014), realizado no Funchal. Promovido pela primeira vez em 2000 e depois retomado a cada três anos (2003/06/09/12/15), os resultados do PISA trouxeram o pânico a muitos gestores educativos e decisores políticos sobre educação, nos países cujos resultados eram mais baixos. Apesar de a OCDE defender que o PISA visa exclusivamente melhorar as políticas e resultados educacionais, o pânico gerado nos decisores políticos conduziu a um conjunto de equívocos graves, entre os quais saliento um que tem tido muito impacto na vida escolar: a ideia de que a resposta ao fracasso dos testes será transformar o ensino, de maneira a… ensinar para os testes. Ou seja, a resposta aos resultados dececionantes do PISA é… ensinar para o PISA. Há uns tempos, foi-me inclusivamente contada a história de um professor que perante a eliminação das provas de matemática e português, no final do 4.º ano, terá perguntado a um alto responsável da educação: “E agora, o que fazemos?”… Esta ideia de ensinar para os testes tem conduzido à desvalorização das restantes áreas disciplinares no seio do currículo escolar, visto que as atuações dos Governos na área da educação são também colocadas à prova pela avaliação do PISA.
Dito isto, é realmente crucial, para o bem da escola e da nossa educação, criar novos indicadores para além do PISA. Para isso, os rankings devem ser construídos tendo em consideração indicadores que visem promover uma escola: mais inclusiva, que integre com sucesso as pessoas com necessidades educativas especiais; com maior mobilidade social, de modo a diminuir as desigualdades sociais; que promova uma educação humanista, de modo a formar alunos mais respeitadores e solidários; mais artística e desportiva.
No que diz respeito às artes, considero essenciais os cinco indicadores seguintes, importantes para a redução da indisciplina, do abandono escolar precoce e da promoção de um maior envolvimento de professores e alunos na vida escolar: “existência de oferta de atividades extracurriculares na área das artes” (modalidade artística ou clube artístico); número de “iniciativas culturais realizadas em contexto escolar”; número de “iniciativas culturais dinamizadas fora da escola para a comunidade”; número de “alunos que participam em grupos artísticos da comunidade”; e “integração na vida escolar através de atividades artísticas” (perceção dos alunos e professores). Além disso, uma sociedade que semeia nas suas escolas as artes está a contribuir para uma escola mais criativa, com maior espírito de cooperação entre os alunos e promotora de valores estéticos. Semear as artes nas nossas escolas é algo que teremos sempre orgulho enquanto comunidade. Num futuro com tantos desafios e incertezas, formar pessoas que aprendam a explorar o seu lado criativo e a promover a imaginação (na biografia de grandes cientistas é costume encontrar a aprendizagem e a prática de uma área artística), é um facto que não deve ser desprezado, principalmente em favor de um teste internacional.
Num recente artigo de opinião sobre os rankings das escolas (“O que os rankings não mostram”), João Costa, o atual Secretário de Estado da Educação, defendia que “conhecer a qualidade de uma escola implica um olhar muito mais abrangente, pelo que são precisos mais indicadores e é necessário um olhar sistémico.” No seguimento desta ideia, afirmava que o Ministério da Educação tem procurado disponibilizar mais indicadores – “Percursos Diretos de Sucesso”; “Indicador de Desigualdades”; e “Indicadores por Disciplina” –, mas que ainda existe muito trabalho das escolas que “não tem sido valorizado e que os rankings não mostram”, apesar de ser trabalho “essencial para o cumprimento da missão da educação”. Entre as áreas fundamentais na estruturação dos indivíduos, mas para as quais ainda não existem indicadores, o atual Secretário de Estado da Educação apontou quatro: Inclusão; Mobilidade social; Educação humanista; e Formação artística e desporto. Tendo em consideração a minha formação académica na área das artes, é natural que os cinco indicadores prometidos no título sejam direcionados para a formação artística. De qualquer modo, antes de ir aos indicadores para a formação artística, parece-me crucial ir um pouco à origem do problema: a obsessão patológica pelos resultados escolares nas áreas da matemática, língua materna e ciências.
Sendo naturalmente um defensor da racionalidade, da ciência e da liberdade de opinião, é também evidente que sou um igual defensor da matemática, do estudo da língua materna e da área das ciências. No entanto, um olhar mais aprofundado sobre a educação nos últimos 16 anos, torna evidente que o programa internacional de avaliação dos estudantes promovido pela OCDE (PISA – Programme for International Student Assessment) – centrado nos resultados a Leitura, Matemática e Ciências –, teve algumas consequências não intencionais negativas, como salientou Rui Vieira Nery, na abertura do V Congresso de Educação Artística (2014), realizado no Funchal. Promovido pela primeira vez em 2000 e depois retomado a cada três anos (2003/06/09/12/15), os resultados do PISA trouxeram o pânico a muitos gestores educativos e decisores políticos sobre educação, nos países cujos resultados eram mais baixos. Apesar de a OCDE defender que o PISA visa exclusivamente melhorar as políticas e resultados educacionais, o pânico gerado nos decisores políticos conduziu a um conjunto de equívocos graves, entre os quais saliento um que tem tido muito impacto na vida escolar: a ideia de que a resposta ao fracasso dos testes será transformar o ensino, de maneira a… ensinar para os testes. Ou seja, a resposta aos resultados dececionantes do PISA é… ensinar para o PISA. Há uns tempos, foi-me inclusivamente contada a história de um professor que perante a eliminação das provas de matemática e português, no final do 4.º ano, terá perguntado a um alto responsável da educação: “E agora, o que fazemos?”… Esta ideia de ensinar para os testes tem conduzido à desvalorização das restantes áreas disciplinares no seio do currículo escolar, visto que as atuações dos Governos na área da educação são também colocadas à prova pela avaliação do PISA.
Dito isto, é realmente crucial, para o bem da escola e da nossa educação, criar novos indicadores para além do PISA. Para isso, os rankings devem ser construídos tendo em consideração indicadores que visem promover uma escola: mais inclusiva, que integre com sucesso as pessoas com necessidades educativas especiais; com maior mobilidade social, de modo a diminuir as desigualdades sociais; que promova uma educação humanista, de modo a formar alunos mais respeitadores e solidários; mais artística e desportiva.
No que diz respeito às artes, considero essenciais os cinco indicadores seguintes, importantes para a redução da indisciplina, do abandono escolar precoce e da promoção de um maior envolvimento de professores e alunos na vida escolar: “existência de oferta de atividades extracurriculares na área das artes” (modalidade artística ou clube artístico); número de “iniciativas culturais realizadas em contexto escolar”; número de “iniciativas culturais dinamizadas fora da escola para a comunidade”; número de “alunos que participam em grupos artísticos da comunidade”; e “integração na vida escolar através de atividades artísticas” (perceção dos alunos e professores). Além disso, uma sociedade que semeia nas suas escolas as artes está a contribuir para uma escola mais criativa, com maior espírito de cooperação entre os alunos e promotora de valores estéticos. Semear as artes nas nossas escolas é algo que teremos sempre orgulho enquanto comunidade. Num futuro com tantos desafios e incertezas, formar pessoas que aprendam a explorar o seu lado criativo e a promover a imaginação (na biografia de grandes cientistas é costume encontrar a aprendizagem e a prática de uma área artística), é um facto que não deve ser desprezado, principalmente em favor de um teste internacional.
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