3 acontecimentos culturais recentes que todos deviam conhecer


por Paulo Esteireiro | JM-Madeira

Nas últimas semanas, tive a oportunidade de assistir a três acontecimentos culturais, que me trouxeram à memória uma famosa citação do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, pertencente à sua peça “A Mãe” (1932). Vou citar uma variante da tradução mais fidedigna, que se afasta um pouco da versão original, mas que ficou amplamente conhecida por ter sido aproveitada pelo poeta e músico cubano Silvio Rodríguez, na introdução da sua canção “Sueño con serpientes”: “Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.” Os três acontecimentos culturais a que assisti recentemente foram protagonizados por pessoas e instituições que são realmente imprescindíveis à cultura madeirense, por terem lutado uma vida inteira em prol das artes performativas da Madeira.

O primeiro acontecimento foi o II Seminário de Bandas Filarmónicas da Região Autónoma da Madeira, que foi organizado pela Associação de Bandas Filarmónicas da Região Autónoma da Madeira (ABFRAM), em parceira com a Direção Regional de Cultura. As bandas filarmónicas têm tido um papel educativo de uma grande relevância na Madeira e são instituições centenárias, que têm contribuído de forma voluntariosa para a promoção e divulgação da arte musical e dos grandes compositores. Por isso, foi com muito agrado que vi a ABFRAM a entregar prémios a músicos que dedicaram décadas da sua vida à música e à sua comunidade. A direção da ABFRAM está de parabéns, nomeadamente o Fábio Teles e o Cláudio Vieira, pelo esforço que têm efetuado na tentativa de união, do reconhecimento público e da formação das diferentes bandas filarmónicas. Quem já tentou unir diferentes associações ou organizações na defesa de uma causa comum, tem consciência da dificuldade que é por vezes unir e construir projetos em conjunto.

O segundo acontecimento foi o musical “Grito de Esperança”. Este foi um evento único de grande qualidade e que só foi possível devido à autonomia e à vontade de um conjunto muito alargado de pessoas – professores, artistas, decisores políticos, diretores de escola, encarregados de educação, etc. –, em fazer melhor na área da educação artística. Para se chegar a um projeto desta envergadura, com direção artística, composição, coreografia e produção exclusivamente regionais, foi preciso um trabalho de décadas. Muitos dos professores, alunos, atores e músicos envolvidos no projeto foram já formados em plena autonomia. Olhar para a orquestra envolvida e para o palco foi olhar para a formação em artes realizada nas escolas da região e ver com satisfação os frutos em palco. Para muitos foi um musical de grande qualidade. Para outros foi um espetáculo fruto do trabalho de décadas, que culminou num grande “Grito de Esperança”. Parabéns ao diretor da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia, Carlos Gonçalves, e a todos os envolvidos diretamente neste projeto, entre os quais se destacam: Virgílio Caldeira e Ricardo Araújo, na produção; Miguel Vieira, na encenação e na direção artística; João Caldeira, na composição e direção musical; Juliana Andrade, na coreografia; e Carolina Basílio, no libreto.

Finalmente, o terceiro acontecimento foi a antestreia de mais uma peça infantil pelo Teatro Experimental do Funchal, “Quasímodo, o Corcunda”, a que tive a possibilidade de assistir no passado dia 4 de dezembro. A peça é inspirada no clássico de Vítor Hugo, que já foi adaptado ao cinema pela Disney, e a versão do Teatro Experimental do Funchal, estreia hoje, 6 de dezembro, no Cine Teatro de Santo António, ficando em palco até ao dia 11 de fevereiro. Este é um espetáculo de cariz inclusivo contando com tradução para língua gestual e com a participação especial de intérpretes do Grupo de Mímica e Teatro Oficina Versus.

Com uma longevidade impressionante, o TEF tem contribuído ao longo de mais de 40 anos para a aprendizagem e o crescimento artístico de muitas crianças e jovens da Madeira, sendo uma instituição importantíssima no panorama da educação artística regional. Este espetáculo é mais uma produção dedicada às crianças da Madeira, estando vocacionado principalmente para as famílias e escolas. No entanto, creio que qualquer pessoa deverá aproveitar mais esta oportunidade para ver uma produção do TEF, encenada por Eduardo Luíz. Estou consciente que é uma verdade de “La Palice”, mas a energia e a emoção de ver um espetáculo com atores ao vivo é uma experiência completamente diferente de assistir a um programa com atores numa televisão. São ambas boas experiências, mas uma não substitui a outra. Ainda mais com os preços levados a cabo pelo TEF. Não há mesmo desculpa para ficar em casa. Pessoalmente, acho que é uma experiência em família, que todas as crianças deveriam ter regularmente. Os atores do TEF e a direção merecem todo o nosso apoio e fica aqui a minha sugestão de Natal: compre bilhetes para os seus familiares irem ver uma peça do TEF ou de outros artistas da Madeira, nos muitos espetáculos que decorrem nesta quadra festiva. Promover a cultura da Madeira está ao alcance de todos.

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