Boas Práticas da Madeira na 32.ª Conferência Mundial do ISME

por Paulo Esteireiro em JM-Madeira

Por mais experiência que se tenha numa determinada área, a humildade obriga-nos a reconhecer que temos sempre muito a aprender. Se aliarmos a essa natural necessidade de aprendizagem contínua, o facto de residirmos numa ilha, então torna-se fundamental procurarmos evitar algum isolamento e estarmos constantemente a expormo-nos a uma variedade de pontos de vista. Faz-nos bem vermos o que os outros fazem de diferente e faz-nos bem ouvir as críticas dos outros, gostemos ou não, aos nossos projetos. Esta exposição é crucial para não perdermos ideias inovadoras e as tendências atuais da nossa área de atividade, que podem futuramente afetar a nossa capacidade de estarmos na vanguarda e evitar que sejamos condenados a alguma estagnação nas nossas práticas. Assim, é necessário participar em conferências mundiais dos setores em que nos inserimos e, no caso da educação musical, a conferência mundial do ISME (Sociedade Internacional para a Educação Musical) é o evento de referência.

Esta conferência decorre de dois em dois anos num continente diferente e, na edição de 2016, que decorreu em Glasgow (de 24 a 29 de julho), participaram cerca de 2500 pessoas vindos de todo o mundo. Entre esse elevado número de participantes encontram-se aproximadamente 400 conferencistas e cerca de 1000 artistas, entre crianças, jovens e profissionais, que realizaram dezenas de concertos ao longo dos seis dias deste encontro mundial.

Este ano, a Região Autónoma da Madeira voltou a estar presente, sendo a sétima vez que participamos com conferências sobre os nossos projetos na área da educação artística, em encontros europeus, ibero-americanos e mundiais. O facto de estarmos ativos como participantes a divulgar as nossas investigações e boas práticas é essencial para posicionarmo-nos como especialistas no plano nacional e internacional. Por exemplo, ao nível português, é indubitável que a RAM é um modelo de excelência e somos reconhecidos pelos principais especialistas nacionais como referências importantes da educação artística.

A conferência que apresentámos este ano resultou de uma investigação realizada pelos investigadores Carlos Gonçalves (diretor de serviços de educação artística e multimédia e membro integrado do centro de investigação INET/MD da Universidade Nova de Lisboa), Natalina Santos (chefe de divisão de apoio à educação artística e membro integrado do Centro de Investigação em Educação da Universidade da Madeira) e eu próprio (chefe de divisão de investigação e multimédia e membro integrado do centro de investigação CESEM da Universidade Nova de Lisboa). A investigação apresentada em Glasgow versou o projeto regional das “modalidades artísticas”, um projeto único de atividades extracurriculares em Portugal, o qual suscitou um grande interesse entre os participantes na conferência, que colocaram muitas questões sobre o modelo aplicado na Madeira e consideraram relevantes os impactos educativos demonstrados pela investigação apresentada. Nomeadamente, demonstraram interesse pela importância deste projeto para a integração dos alunos na vida escolar; pelo facto de dois terços dos alunos participantes no projeto ambicionarem seguir uma carreira artística; e pelo indicador que salientava que um terço dos alunos já estava integrado num grupo artístico da sua comunidade.

A plateia demonstrou também interesse pela continuidade da investigação que os investigadores da Madeira pretendem realizar, principalmente sobre a importância do projeto das “modalidades artísticas” no combate ao abandono escolar precoce.

A conferência decorreu em edifícios fantásticos, tais como o Conservatório Real da Escócia – uma escola superior de artes e cinema –, no Glasgow Royal Concert Hall, no Teatro Real de Glasgow e no National Piping Centre, locais que se encontram muito perto uns dos outros e que formam um “cluster” cultural importante para a cidade de Glasgow. No geral são edifícios de dimensões grandiosas mas com uma construção simples e pragmática, demonstrando que não é necessário muito dinheiro para se construir equipamentos de nível superior.

A Madeira, através do Governo Regional, poderia candidatar-se a receber no futuro uma destas conferências mundiais ou uma europeia. Seria inclusivamente um bom pretexto para construirmos nos próximos anos um espaço cultural no centro do Funchal que tanta falta faz para os artistas madeirenses e para o entretenimento cultural dos turistas.

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