VER A RTP-M DÁ FORÇA À CULTURA REGIONAL

por Paulo Esteireiro | JM-Madeira

«Queremos muito ver este festival no continente» disse Luís Represas em 2011, referindo-se ao Festival da Canção Infantil da Madeira (FCIM). Não me lembro se foram estas as palavras exatas do conceituado cantor português mas a ideia era basicamente essa.

Regionalismos à parte, confesso que há cinco anos atrás já era para mim estranho o festival madeirense não ser transmitido no canal 1 da RTP, tendo em consideração a qualidade apresentada e a sua singularidade no panorama nacional. Saliente-se que a estranheza aumentava, até porque já era transmitido na RTP-Internacional.

Assim, é com especial agrado que ficámos a saber que o desejo expressado por Luís Represas e, principalmente, por todos os envolvidos no festival, vai ser concretizado no próximo dia 26 de maio, data em que o FCIM vai ser, pela primeira vez, transmitido na RTP 1. Foi preciso esperar pela 35.ª edição deste festival para ver este sonho concretizado. Uma questão relevante neste contexto é procurar saber por que motivos o melhor festival da canção infantil português da atualidade, apenas conseguiu um espaço na grelha nacional, após 35 edições. Não sendo eu a pessoa indicada para responder a esta questão, parece evidente que não deve ser fácil convencer o conselho de administração da RTP nacional, que temos na região um festival infantil de excelência. Em suma, o centralismo de Lisboa não se vê apenas nas questões da TAP ou dos fundos comunitários, vê-se também na negociação da transmissão de conteúdos da RTP-M com a RTP nacional. Por esse motivo, considero que é essencial felicitar os atuais responsáveis da RTP-M – Martim Santos e Miguel Torres Cunha – pelo feito conseguido, que terá consequências muito importantes, nomeadamente ao nível do prestígio do evento, das artes da região e da criação de canções originais de autores madeirenses. É essencial também felicitar a Secretaria Regional de Educação, por ter persistido neste projeto, e em particular o atual responsável do evento Carlos Gonçalves, o Diretor de Serviços de Educação Artística e Multimédia, e toda a sua equipa, por ter elevado a qualidade deste festival nas últimas décadas, tornando-o hoje uma referência regional e nacional. A região tem provavelmente o mais importante conjunto de canções infantis originais, criadas após o 25 de abril, principalmente devido à organização ininterrupta deste festival. São centenas de canções infantis com melodias e poemas de autores regionais, que constituem um património cultural e educativo relevante da região. Outras regiões gostariam certamente de ter este património.

É importante referir que as canções infantis que concorrem ao festival não “morrem” no dia do evento. É comum em diversas escolas e municípios da região organizarem-se festivais com as canções concorrentes ao FCIM, possibilitando aos alunos que não podem concorrer ao evento regional, a oportunidade de cantar as canções na sua escola, para a comunidade escolar envolvente.

A própria Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (DSEAM) costuma divulgar as canções em edições (CDs, Livros, DVDs) e tem atualmente um conjunto de projetos para promover as canções regionais, que contarão com o apoio do Grupo Sousa, como patrocinador exclusivo: a coleção “20 músicas, 20 poemas, 20 ilustrações” e a personagem “Juju Red”.

A Juju Red, por exemplo, é um projeto que nasceu com o propósito de revitalizar e divulgar as canções infantis madeirenses originais, que têm surgido ao longo de três décadas e meia no Festival da Canção Infantil da Madeira. A ideia original foi selecionar um conjunto das melhores canções surgidas neste festival e criar uma personagem divertida, que desse nova vida às músicas e criasse coreografias atrativas para as crianças. O sucesso alcançado por esta personagem na semana que antecedeu o festival e no próprio dia do evento, demonstra que foi uma aposta acertada e que, muito em breve, continuaremos a ver na televisão e nas redes sociais videoclipes com canções infantis de autores madeirenses e danças criadas a pensar nas crianças.

Por sua vez, a coleção “20 músicas, 20 poemas, 20 ilustrações” é uma série editorial de 5 livros temáticos com CDs (“Os Animais”, “O Mar”, etc.), que visa divulgar canções emblemáticas dos festivais da canção infantil da Madeira. A coleção vai ajudar a divulgar no todo nacional e nos países de língua oficial portuguesa o rico património de canções de autores madeirenses criado nas últimas décadas.

Apesar da qualidade inegável de parte importante das canções criadas no âmbito deste festival, também é verdade que o prestígio deste evento advém da excelente parceria desenvolvida entre a RTP-M e a Secretaria Regional de Educação. Foi desta junção de vontades que surgiu o melhor festival da canção infantil da atualidade em Portugal. Uma RTP-M forte e com muita audiência é certamente um polo de defesa e difusão da cultura regional, como comprova o exemplo do FCIM na RTP 1. É por esse motivo que considero que ver a RTP-M dá força à cultura regional.

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