DANÇA, EDUCAÇÃO E SAÚDE


Por Paulo Esteireiro | JM-Madeira

No próximo dia 29 de abril vai comemorar-se o Dia Mundial da Dança. Este dia foi instituído em 1982 pelo Comité Internacional da Dança da UNESCO e visa aumentar a atenção para a importância desta arte junto da comunicação social e das populações de todo o mundo, bem como estimular os governos a implementarem melhores políticas públicas nesta área.

A Madeira tem uma tradição na área da dança relevante, sendo uma região portuguesa em que é relativamente acessível a prática desta arte, pelo menos em determinadas idades e em regime de ensino artístico especializado e de atividades extraescolares. No entanto, estamos longe de poder afirmar que todas as nossas crianças e jovens têm facilidade em poder praticar esta disciplina artística ao longo do seu percurso escolar, no ensino genérico, com professores devidamente habilitados. Assim, é importante começar por questionar por que motivo a dança, tal como por exemplo o teatro, não tem um papel mais relevante na educação, no ensino genérico?

É essencial começar por referir que o principal entrave vem do sistema educativo nacional português, que não deixa muito espaço para os alunos poderem desenvolver esta arte e não incentiva o suficiente a oferta de cursos de dança e a contratação de docentes especializados nesta área pelas escolas, que não têm sequer grupo de recrutamento próprio (a este respeito, creio que é de salientar que brevemente sairá um artigo de fundo muito interessante na “Revista Portuguesa de Educação Artística” n.º 6, sobre “O Lugar da Dança no Sistema Educativo Português”, da autoria das investigadoras Maria João Alves e Margarida Moura).

Apesar disso, o sistema educativo regional disponibiliza, pontualmente, aos alunos esta prática artística, sendo de destacar a boa relação entre música e dança no 1.º ciclo do ensino básico e nos ciclos posteriores, principalmente através do projeto de modalidades artísticas. Felizmente, a situação no ensino artístico especializado e em regime de atividades extraescolares da região é bem melhor e existem estabelecimentos públicos e privados com oferta relevante na área da dança (Conservatório - Escola das Artes da Madeira, Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia e Escola de Dança do Funchal, apenas para citar alguns exemplos). A Escola de Dança do Funchal é, inclusivamente, um bom exemplo de relação entre o ensino artístico especializado e o ensino genérico/regular, sendo um modelo que poderia e deveria ser alargado.

De qualquer modo, tendo em consideração os muitos benefícios da dança, inclusivamente ao nível da saúde, há ainda um caminho muito longo a percorrer, principalmente tendo em consideração o potencial que há para explorar nesta área, em todas as idades e não apenas junto dos mais jovens.

A este respeito, vou dar um exemplo de um estudo que há poucos anos me impressionou bastante. O senso comum e a nossa capacidade de observação faz com que, provavelmente, todos tenhamos consciência de diversas vantagens da prática da dança, sendo algumas delas comprovadas por estudos académicos de entidades prestigiadas: melhora a flexibilidade física; reduz o stress; diminui a depressão; ajuda o coração e previne doenças cardiovasculares; ajuda a perder peso; aumenta os nossos níveis energéticos; e, inclusivamente, melhora a nossa vida social contribuindo para aumentarmos a nossa rede de amizades.

Mas o estudo que quero partilhar vai um pouco além do senso comum e relaciona a dança com a melhoria da memória e a prevenção do desenvolvimento da demência (aqui entendida como o declínio progressivo da pessoa em áreas como a perda de memória, capacidade intelectual, raciocínio, competências sociais e alterações das reações emocionais normais).

O estudo intitula-se de “Atividades de Lazer e o risco de demência em Idosos” e foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, em 2003. O estudo acompanhou 469 indivíduos, com mais de 75 anos de idade, que não tinham demência, e procurou averiguar se determinadas atividades recreativas (físicas e cognitivas) teriam benefícios significativos ao nível mental. Entre as atividades cognitivas testadas encontravam-se a leitura de livros, a escrita por prazer, a realização de palavras cruzadas, jogos de cartas e tocar um instrumento musical. Nas atividades físicas avaliou-se o impacto de jogar ténis, golf, natação, ciclismo, dança, caminhadas e atividades domésticas.

Os idosos foram acompanhados por cerca de cinco anos e uma das surpresas do estudo foi que quase nenhuma das atividades físicas pareceu oferecer qualquer proteção contra a demência. Entre as atividades de lazer que foram associadas com a redução do risco de demência destacaram-se a leitura, jogar jogos de tabuleiro, tocar instrumentos musicais e dançar frequentemente. Ou seja, apenas uma das atividades físicas, a dança, revelou ter um impacto significativo na redução do risco de demência. Em suma, faça umas palavras cruzadas, leia uns romances e, acima de tudo, inscreva-se em atividades de música e em aulas de dança.

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