O TRIGO E O JOIO



por Paulo Esteireiro | JM-Madeira


A internet revolucionou a nossa forma de aceder ao conhecimento, sendo uma tecnologia muito positiva e com um impacto impressionante na democratização do conhecimento. No entanto, o facto de o “saber” estar agora disponível, de forma rápida e generalizada, teve também consequências algo imprevisíveis e nem sempre positivas. Uma das principais consequências negativas é o excesso de conhecimento falso colocado online. Apenas para citar alguns exemplos, existem centenas de citações falsas de Churchill ou Einstein a circular online como verdades absolutas, as quais vemos frequentemente partilhadas de forma ligeira.

Nem o conhecimento científico está livre deste problema, como comprovou o “Caso Sokal”, ocorrido em 1996. Nesse ano, Alan Sokal, professor de física da Universidade de Nova Iorque, submeteu um artigo à revista científica “Social Text”, uma publicação especializada em estudos culturais pós-modernos. O artigo de Sokal foi aceite e publicado pela revista e, no dia em que o texto saiu, o físico afirmou em público que o artigo constituía uma fraude: tratava-se de uma mera experiência para testar o rigor intelectual da revista – ou a falta dele. Ou seja, Sokal queria verificar se uma publicação líder na área dos estudos culturais, com editores de renome, aceitaria publicar um artigo com ideias falsas e até absurdas, desde que repleto de conceitos e preconceitos ideológicos dos editores – para se ter uma noção do absurdo, a ideia central do artigo de Sokal era que a gravidade quântica é uma construção social e linguística.

Assim, se nem as revistas científicas estão a salvo desta demarcação entre conhecimento verdadeiro e falso, como é então possível separar o “trigo do joio”? Como fazer essa triagem no conhecimento?

Não querendo aprofundar o conflito do Caso Sokal, nem tomar uma posição radical a favor ou contra os editores da revista, a verdade é que, na época, a revista em causa não praticava a revisão científica por pares e não enviou o artigo para um ou mais peritos externos da especialidade (bastava os editores terem enviado o artigo a um físico para parecer, que o problema não teria existido). O Caso Sokal teve um impacto tão grande na comunidade académica que, nos últimos 20 anos, houve uma grande evolução na qualidade das revistas científicas e no modo como fazem a triagem dos artigos científicos que recebem.

Entre os aspetos que se tornaram centrais para a credibilidade de uma revista científica contam-se: a existência de revisão dos artigos por, pelo menos, dois revisores externos especialistas na área (de forma anónima e sem qualquer dado sobre o nome do autor do artigo); e se está indexada em diretórios de revistas científicas credíveis (ou seja, se cumpre com as dezenas de critérios exigidos por determinadas entidades internacionais no domínio de publicações científicas).

Neste contexto, é de realçar o facto da Revista Portuguesa de Educação Artística (RPEA), publicação madeirense da responsabilidade da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (serviço da Direção Regional de Educação), ter passado a ser indexada recentemente no DOAJ (Directory of Open Access Journals). O DOAJ é um dos mais importantes diretórios de periódicos científicos do mundo e é mantido pela Universidade de Lund, na Suécia. Atualmente estão indexados no DOAJ 11416 revistas de 136 países, perfazendo um total de 2,224,836 de artigos disponíveis. A RPEA segue o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona uma maior democratização mundial do conhecimento. Todos os artigos da RPEA são agora disponibilizados de forma aberta, livre e sem custos para o utilizador.

A Revista continua a ter a versão impressa para bibliotecas académicas e para os interessados em ter uma versão em suporte papel, mas a partir de agora, ao aderir ao "Open Journal System", prevê-se o aumento do número de leitores dos artigos publicados na RPEA e do impacto da revista no meio académico.

Realça-se que os artigos publicados na RPEA passam todos por um processo rigoroso de avaliação, de modo a garantir a sua qualidade científica. Inicialmente são avaliados por membros da equipa editorial e os considerados adequados são submetidos ao parecer técnico de pelo menos dois revisores externos, selecionados entre os membros do Conselho Científico da RPEA. A revisão é feita anonimamente, podendo os revisores propor a rejeição, aceitação sem modificações ou propor alterações de conteúdo ou de forma, condicionando a publicação do artigo às mesmas

Além do DOAJ, a RPEA é Indexada e Referenciada pelas seguintes bases de dados internacionais de publicações periódicas científicas: ERIH PLUS - European Reference Index for the Humanities and Social Sciences; e Latindex - Sistema Regional de Informação para as Revistas Científicas de América Latina, Caribe, Espanha e Portugal.


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