COMUNICAR BEM EM 2016 | por Paulo Esteireiro

COMUNICAR BEM EM 2016 | por Paulo Esteireiro
 No espírito de um novo ano e dentro dos votos habituais para o novo ciclo que agora se iniciou, queria partilhar uma reflexão sobre o que considero ser um dos principais fatores de sucesso de um grupo ou de uma equipa. Frequentemente ouvimos falar que é necessário promover “um verdadeiro trabalho de equipa” e que é essencial criar coesão num grupo. Mas como é possível atingir estes objetivos? Ao longo da vida vamos sendo atraídos por determinados grupos sociais – religiosos, políticos, artísticos, desportivos, etc. – e é sabido que ficamos ligados permanentemente a alguns, enquanto acabamos por nos desligar física e emocionalmente de outros. Lembro-me perfeitamente de ter cerca de doze anos e da satisfação que senti por passar a integrar gradualmente grupos fora do habitual círculo familiar: a entrada para uma escola de música e depois para um coro; mais tarde a integração num grupo de jovens católicos; a admissão numa equipa desportiva; a participação num grupo de pop-rock; etc. Todas estas experiências vão moldando a nossa identidade pessoal e fazem-nos sentir menos sós e com um orgulho de pertença a grupos, com prestígio no meio social que nos rodeia. Desde esses anos da adolescência, vamos participando ativamente em dezenas de grupos diferenciados e creio ser evidente para todos que estes funcionam de formas muito diversificadas. Por exemplo, sentimos que alguns são verdadeiros modelos democráticos, onde a comunicação funciona bem e onde nos sentimos um membro importante, enquanto outros são quase armadilhas ditatoriais, em que um núcleo reduzido de pessoas não aceitam comentários e opiniões diferentes. Segundo a minha experiência pessoal, na atual sociedade democrática e pluralista, o primeiro tipo de grupo tem tendência para o crescimento e para a criação de líderes, enquanto o segundo tende para uma cristalização ou mesmo decadência, após a saída das lideranças de cariz prepotente. Diagnóstico frequente: não houve espaço para a criação de uma segunda geração de líderes. De qualquer modo, a minha principal ideia neste texto está relacionada com os diferentes modos como se comunica em grupo. É frequente observar-se uma generalizada dificuldade de expressão de ideias e emoções em contexto de grupo. Nos casos em que não há uma cultura de diálogo tolerante, é provável que um dos valores mais importantes não resista: o respeito na comunicação entre membros. Vou falar brevemente de três modelos de comunicação comuns que tenho assistido na primeira pessoa: o passivo e intriguista; o frontal agressivo; e o assertivo. O primeiro caso é frequente nas pessoas mais inseguras ou com dificuldade de comunicação e de expressão de ideias de forma frontal, que acabam por promover ambientes de intriga e facções internas. No extremo oposto, vemos igualmente membros de grupos que são frontais de um modo agressivo, normalmente “em nome da verdade”. Têm tendência para não respeitar ideias diferentes de outros membros do grupo, com a desculpa que “são frontais” – o que na perspetiva deles permite todo o tipo de agressividade na comunicação. Pessoalmente, defendo o terceiro modelo de comunicação, de cariz assertivo, e creio que o sucesso dos grupos está diretamente relacionado com o modo como os seus membros conseguem desenvolver essa assertividade na resolução dos problemas que têm de defrontar. E aqui surge uma questão importante e que é essencial para um líder de um grupo artístico, mas também para qualquer líder que tenha de comandar uma equipa. No que consiste a assertividade? E no que difere, por exemplo, da frontalidade? Na minha experiência pessoal, para algumas pessoas que defendem a frontalidade a todo o custo, não lhes importa o impacto das suas palavras. Só lhes importa serem verdadeiros. O impacto emocional da sua ação acaba apenas por trazer consequências graves no futuro do relacionamento com os restantes membros do grupo. Assim, é comum que pessoas que têm metas e objetivos comuns se afastem devido à combatividade deste tipo de frontalidade mais agressiva. Por outro lado, num modelo mais assertivo, procura-se conjugar a firmeza da nossa posição – evitando assim as intrigas advindas da dificuldade de comunicação dos interesses pessoais – com o respeito pela diferença e pela posição do “outro”. Assim, um dos meus desejos para 2016 é que cultivemos uma comunicação menos egoísta, menos agressiva, menos intriguista e mais assertiva. Só com respeito e compreensão pelo outro conseguimos coletivamente ter sucesso. Não é fácil, mas a alternativa é pior.

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