SOMOS MELHORES EM QUÊ? (JM-Madeira)


(Muitas vezes perguntam-me o que é diferente na educação artística na Região Autónoma da Madeira relativamente ao resto do país. Neste contexto, segue uma breve reflexão que escrevi para o JM sobre os motivos que terão colocado a Madeira na vanguarda da educação artística ao longo dos últimos 35 anos.)

É sabido que nas últimas décadas o ensino das artes tem sido uma grande aposta política do Governo Regional da Madeira. Este investimento tem obtido resultados visíveis e atualmente a Região é, sem qualquer dúvida, um modelo educativo para o todo nacional no domínio da educação artística, principalmente na educação pré-escolar, no ensino básico e na educação extraescolar. Este fenómeno regional tem sido reconhecido fora da Região e foram realizados importantes estudos académicos sobre a realidade madeirense – inclusivamente financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia –, os quais foram posteriormente divulgados em revistas e congressos científicos.

Tendo em consideração que não é fácil uma região como a nossa ser pioneira e um modelo de referência – em qualquer área, não apenas na educação artística –, creio ser relevante fazer uma breve reflexão sobre os motivos que terão colocado a Madeira na vanguarda desta área educativa. Ou seja, no que somos melhores no domínio da educação artística? O que fizemos de especial para sermos reconhecidos como a região de referência neste domínio educativo?

Entre as conquistas importantes realizadas na Região, começo por um dos elementos centrais que nos distingue e que está na base de muito do nosso sucesso: o facto de termos uma unidade orgânica no âmbito da Direção Regional de Educação (DRE), dedicada a promover a educação artística – a Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (DSEAM) –, serviço que serve de força mobilizadora junto dos docentes para as várias atividades promotoras das artes em contexto escolar e extraescolar (Semana Regional das Artes, Festival da Canção Infantil, Temporada Artística, Modalidades Artísticas, etc.). É através deste serviço da DRE que se incentivou, por exemplo, em 1980, a monodocência coadjuvada no 1.º Ciclo em contexto curricular, colocando professores competentes e devidamente habilitados nas áreas artísticas nas escolas de toda a RAM. É por este motivo que as nossas crianças e jovens chegam a casa sabendo tocar um ou mais instrumentos, a cantar dezenas de canções por ano, a praticar teatro, dança e expressão plástica. Além disso, este serviço governamental concebeu um programa de incentivo às atividades de enriquecimento curricular, consubstanciado no projeto de “Modalidades Artísticas”, que leva as artes em contexto extracurricular a quase todas as escolas. Não existe no resto do país.

Um outro fator que ajuda a explicar o nosso sucesso nesta área, e que também nos distingue, é a aplicação de um programa de formação contínua para professores de educação artística, com três décadas e meia, e que todos os anos realiza centenas de horas de formação. A DSEAM realiza ainda um encontro anual de profissionais de Educação Artística – o Congresso de Educação Artística –, para debater temas centrais da atualidade e para permitir a participação em workshops inovadores ou para reciclar os conhecimentos dos participantes. Ainda nesta vertente formativa e de atualização de conhecimentos, a DSEAM tem um departamento de investigação dedicado à publicação de novos materiais pedagógicos nas áreas artísticas, que todos os anos produz novos conteúdos com o propósito de divulgar as artes e os artistas regionais. Este departamento, além de investigar e de promover os conteúdos regionais, promoveu um sistema de avaliação de competências-chave em educação musical que é único a nível nacional.

Finalmente, temos na Madeira um trabalho sistemático de preparação de audiências, através de uma temporada artística anual, protagonizada pelos diversos grupos artísticos da DSEAM, que promovem todos os anos cerca de 220 espetáculos. Estes grupos artísticos surgem de atividades extraescolares, onde a Região é também pioneira, servindo o trabalho da DSEAM de “viveiro” para vários grupos da Região (bandas filarmónicas, grupos de música tradicional, grupos de música ligeira, coros, etc.).

Outros motivos poderiam ter sido adiantados para o nosso sucesso na área da educação artística – por exemplo, o papel das diversas lideranças desta instituição e o modo como são formadas –, no entanto, creio que as causas anteriormente assinaladas já contribuem para uma melhor compreensão do sucesso alcançado e assinalam diferenças cruciais relativamente ao sistema educativo do resto do país.

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