Cultura e Audiovisual por Paulo Esteireiro

Cultura e Audiovisual

Qualquer país ou região que queira proteger, desenvolver e promover os seus artistas e a sua cultura necessita de ter uma estratégia consistente no domínio do audiovisual. Num mundo em que o vídeo se tornou uma das formas de comunicação mais relevantes, é quase impossível um artista musical, por exemplo, ser conhecido e alcançar o sucesso sem o auxílio do audiovisual, nomeadamente de documentários e videoclips musicais. Quase se poderia adaptar o velho adágio e anunciar que “um vídeo(clip) vale mais do que mil imagens”.
A RTP-Madeira tem sido o grande instrumento de divulgação da cultura madeirense, mas é notoriamente insuficiente perante a realidade atual, que exige um conjunto mais alargado de intervenientes privados e públicos, tais como realizadores, produtores, distribuidores, agentes comerciais e outros profissionais qualificados do setor audiovisual, bem como artistas vocacionados e a reconhecer a importância central do audiovisual para as suas carreiras. Existe, é verdade, um conjunto de realizadores e produtores de reconhecida qualidade na região, mas que não têm tido o apoio necessário para atingirem patamares superiores, como seria imprescindível, se queremos ter uma cultura madeirense forte e a promover o que melhor se faz na Madeira.
Neste contexto, as séries de videoclips “Músicos da Madeira” e “Cordofones Tradicionais Madeirenses”, que foram transmitidas na RTP-M, desde o passado dia 20 de outubro de 2014, são um bom exemplo de um tipo de atividade que contribui para a promoção dos artistas madeirenses da área da música.
O projeto foi promovido pelo Governo Regional da Madeira, através da Secretaria Regional de Educação, que brevemente irá editar em DVD estas séries e assim levar os vídeos produzidos aos alunos das escolas da Região Autónoma da Madeira – a promoção dos artistas madeirenses tem de começar naturalmente nas escolas, tendo os professores um papel crucial na defesa da cultura madeirense. Os programas foram coordenados pela Direção Regional de Educação através do Serviço de Educação Artística e Multimédia e contaram com o patrocínio exclusivo do Grupo Sousa.
Tendo em consideração que a música e as obras de arte são parte crucial da identidade regional e um verdadeiro cartão de visitas da Madeira no exterior, estes programas audiovisuais tiveram o propósito de promover a identidade regional junto da comunidade educativa e simultaneamente estimular a criação de artistas madeirenses.
A série de videoclips "Músicos da Madeira" é constituída por 13 vídeos e foi filmada ao longo de um ano, tendo envolvido alguns dos músicos e grupos mais emblemáticos da Madeira, entre os quais se destacam os seguintes: Banda D’Além; Si que brade; Xarabanda; Ensemble de Acordeões da DSEAM; Orquestra de Bandolins da DSEAM; Orquestra de Cordas; Orquestra Clássica da Madeira; entre outros. Esta série visou dar a conhecer músicos e autores a atuar na Madeira e cada vídeo incluiu, além da música, uma breve entrevista com o líder do grupo em destaque.
A série de videoclips "Cordofones Tradicionais Madeirenses" teve como principais propósitos demonstrar a qualidade dos novos intérpretes e relembrar a importância destes instrumentos no contexto mundial. Entre os músicos e grupos envolvidos destacaram-se: Vítor Filipe, Roberto Moritz, Roberto Moniz, Vítor Sardinha e Guilherme Órfão.
Esta relação entre cultura e audiovisual é essencial para valorizar os artistas e constitui uma forma de glorificar todos aqueles que têm contribuído para que as artes do espetáculo continuem a existir na Madeira em espetáculos ao vivo, com artistas e obras originais – originais, saliente-se novamente – madeirenses. Ter músicos a atuar ao vivo é um serviço caro em qualquer parte do mundo e senão tomarmos medidas que visem a profissionalização e a valorização do setor, corremos o sério risco de a médio prazo deixar de ter artistas regionais profissionais e mesmo semiprofissionais nas áreas da música, dança e teatro. Continuaremos a ter cultura, mas será exclusivamente definida por centro culturais hegemónicos dos quais seremos meros epígonos.

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