O Projeto “Coleção Madeira Música” | Jornal da Madeira

O Projeto “Coleção Madeira Música” | Jornal da Madeira


Em 2015, celebram-se 10 anos do projeto “Coleção Madeira Música”, um projeto apaixonante que, desde o início, teve como o principal propósito dar vida a obras musicais madeirenses do passado e divulgá-las em formato didático-cultural. Ao longo desta década de atividade foram “ressuscitadas” dezenas de composições de autores madeirenses que estavam maioritariamente esquecidas, apesar do inegável valor que contêm.  
Em 10 anos contaram-se muitas histórias. Histórias sobre músicos; histórias sobre instituições; histórias sobre instrumentos; e histórias sobre obras que tiveram uma grande relevância na sua época. Redescobriu-se a música sacra do passado; reconstituiu-se o percurso de instrumentos como o bandolim, o machete, o piano ou a viola na Madeira; recuperou-se as obras das orquestras de salão; e valorizou-se o papel das bandas ao longo dos séculos XIX e XX na região. Acima de tudo, voltou-se a dar vida a partituras que foram criadas por personalidades que marcaram a vida musical madeirense, entre as quais destacamos: João Fradesso Belo, Ricardo Porfírio de Afonseca, António José Bernes, Candido Drumond de Vasconcelos, Manuel Monteiro Cabral, Nuno Graceliano Lino, César Rodrigues do Nascimento, Dário Flores, Luiz Peter Clode, Tony Amaral, Helder Martins e Fernando Vaz. Muitos outros poderiam ainda ser referidos.
Atualmente existe uma antologia da música madeirense que foi recuperada ao longo dos 10 anos deste projeto. Assim, é possível ouvirmos as músicas madeirenses do passado e conhecer as partituras, principalmente devido à colaboração graciosa de centenas de músicos e algumas dezenas de investigadores. É essencial aqui referir o papel dos muitos professores da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (ex-Gabinete Coordenador de Educação Artística) que deram vida a este projeto em quase todos os nove números já publicados:
1. Sinfonias de Santa Cecília;
2. Bailes do Funchal no séc. XIX;
3. A Música para Piano na Madeira;
4. O Machete Madeirense no Séc. XIX;
5. O Bandolim na Madeira;
6. Sarau Musical no Funchal;
7. Música para Viola;
8. Bandas Filarmónicas;
9. Música Sacra.
Este ano será lançado brevemente o décimo volume desta coleção (em formato CD-ROM+Áudio como os restantes números da Coleção), o qual será dedicado aos “Conjuntos Madeirenses”, principalmente aos ativos entre as décadas de 1940 e 1960.
Um dos músicos madeirenses em destaque neste décimo volume foi o pianista e compositor Tony Amaral (1910-1976). No início dos anos 40, o pianista madeirense criou o Conjunto Tony Amaral e a sua Orquestra, com o qual atuava no Hotel Bellavista. Em 1946 muda-se para Lisboa, onde alcança um enorme sucesso, inclusivamente junto da crítica. O conjunto de Tony Amaral é um exemplo de um novo tipo de grupo de músicos profissionais, normalmente designado de “conjunto”, que começa a proliferar de forma mais acentuada na década de 1940, principalmente devido ao aumento do número de hotéis e da oferta turística madeirense. O termo “conjunto” aplicou-se a vários tipos de formações mas foi principalmente utilizado na Madeira, nas década de 1940 e 1950, para designar novos agrupamentos de pequena dimensão e com configurações variadas, que se desenvolveram em torno da bateria de ritmo e com um repertório baseado nas danças em voga.
A partir da década de sessenta, surge uma segunda geração de conjuntos, tais como o Conjunto Académico João Paulo com Sérgio Borges, Dinâmicos, Demónios Negros, Incríveis, Dancers, entre outros projetos, que alcançaram projeção nacional e que foram influenciados por grupos como os Shadows ou os Beatles. É também nesta altura que muitos conjuntos começam a acrescentar nas suas designações a expressão “ritmos modernos”. Por exemplo, num espetáculo de homenagem à cançonetista Ana Maria, o articulista refere-se à “exibição dos conjuntos de ritmos modernos Vulcânicas e os Dinâmicos”, tornando-se este epíteto normal: Conjunto de Ritmos Modernos “Os Dancer’s” (1965), Conjunto de Ritmos Modernos Tonar's (1965), Conjunto de Ritmos Modernos “Os Baitas” (1969), grupos musicais de ritmos modernos ou de rock Os Rivais de Câmara de Lobos e os Hamong Band (1970). Entre estes agrupamentos, o Conjunto Académico João Paulo viria a ser o de maior sucesso, ocupando o lugar cimeiro da música ligeira regional e nacional, outrora pertencente ao Conjunto de Tony Amaral.
Tal como nos restantes números da coleção, neste 10.º volume será possível: ouvir as gravações áudio de composições históricas madeirenses; visualizar e imprimir as partituras das peças gravadas; conhecer alguns dados biográficos sobre os músicos e o contexto em que atuaram. Todos os conteúdos presentes nesta edição podem ser visualizados num computador e as músicas podem ser ouvidas num leitor de CD ou no próprio computador.
A edição será produzida pela Direção Regional de Educação, através da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia, e contará com o patrocínio da Direção Regional da Cultura.

Comentários