Música, Comunidade e Bem-Estar | Jornal da Madeira

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Nos próximos dias termina o período em que estão abertas as inscrições para os novos alunos nas atividades artísticas extraescolares da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (9 a 14 de julho) e para as pré-inscrições do Curso do Ensino Artístico Especializado no Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira (até 10 de julho). Nesta fase é especialmente importante referir que a arte musical é muito mais do que um fenómeno acústico ou meras notas musicais numa página, sendo uma atividade essencial para o nosso bem-estar.
Assim, do mesmo modo que é atualmente consensual que o desporto, a ginástica ou o contacto com a natureza são atividades essenciais para a nossa saúde e bem-estar, também a música tem sido alvo nas últimas décadas de diversos estudos científicos – nas áreas da psicologia, terapia, saúde pública, medicina e educação musical –, que comprovam a sua relevância para a promoção da saúde e do bem-estar.
Ou seja, quem pratica atividades musicais, além de desenvolver naturalmente competências musicais (conhecimentos musicais, musicalidade, competências técnicas, etc.), também recolhe benefícios ao nível pessoal que vão para além dos conhecimentos específicos da área: sentimento de realização pessoal, divertimento, fuga da rotina, crescimento pessoal ou mesmo desenvolvimento de espiritualidade e capacidade de apreciação estética. Mas os resultados mais relevantes que têm surgido nos estudos realizados nas últimas décadas, sobre os efeitos positivos da música na saúde, estão relacionados com os benefícios socioculturais. Se no caso da aprendizagem individual de um instrumento, os resultados são contraditórios visto que nem sempre os alunos reconhecem benefícios socioculturais, quando se tratar da aprendizagem ou da prática em grupo, os resultados são incontestáveis. A esmagadora maioria da população estudada costuma referir as enormes vantagens da prática musical neste domínio. Mesmo quando falamos de alunos ou músicos amadores seniores, estas vantagens são bastante evidentes, confirmando que a prática musical pode e deve ser realizada em qualquer idade (nunca é tarde para começar!).
Apenas para dar um exemplo, num estudo realizado por Heiner Gembris, da Universidade de Paderborn (Alemanha), os entrevistados revelaram que a atividade musical amadora lhes trazia benefícios tão importantes como os que vêm a seguir assinalados (entre parêntesis, encontram-se as respostas de concordância no estudo): providencia-me vitalidade (98%); melhora-me a qualidade de vida (95%); faz-me feliz (92%); ajuda-me a fazer contactos (95%); é um desafio (90%); dá-me um sentido de comunidade (90%); relaxa-me (84%); mantém-me saudável (72%); ajuda-me a expressar emoções (70%); mostra-me os meus limites (69%); dá um sentido à minha vida (66%); conforta-me (50%); etc.
Apesar dos resultados falarem por si, não deixa de ser relevante salientar que ao falarmos de vitalidade, felicidade e contacto com outras pessoas, estamos na prática a abordar alguns dos principais objetivos da vida humana, não é? Daí que a aprendizagem ou a prática musical amadora esteja a ganhar preponderância na vida adulta e, especialmente, entre a cada vez maior comunidade sénior reformada.
Nestes casos, o indicado já não será a inscrição na Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia ou no Conservatório, mas existe uma larga oferta na comunidade, a qual seria crucial aumentar e acarinhar ao nível político, devido aos efeitos benéficos da música na melhoria da qualidade de vida: coros; grupos de folclore; escolas privadas em associações culturais que dão aulas de música ou dança; tunas; bandas filarmónicas; entre outras instituições.
Neste domínio, tenho uma especial predileção pelo projeto da Associação Musical e Cultural Xarabanda, que há décadas vem promovendo a prática dos cordofones tradicionais madeirenses. Qualquer pessoa, de qualquer idade, pode inscrever-se e aprender um instrumento regional por um bom preço em aulas de grupo e rapidamente integrar um conjunto. Esta associação começou recentemente um projeto inovador e interessante que é a Tertúlia das Cantigas Tradicionais Portuguesas. Qualquer pessoa pode aparecer e cantar mesmo sem saber. Basta apenas gostar. Em suma, se quer aumentar a sua vitalidade, sensação de felicidade e a rede de contactos, aproveite e aprenda ou pratique música em grupo. A sua televisão vai sentir falta de si, mas a sua saúde e o seu bem-estar agradecem.

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