Teatro São Carlos - DON GIOVANNI - Récita de 1 de Junho

Numa ópera tão conhecida e representada como D. Giovanni é de esperar que a encenação inove e que procure adaptar a acção a uma ideia estética central contemporânea, a qual transmita a visão do encenador sobre esta ópera. Neste contexto, compreende-se naturalmente as muitas transformações poéticas e humorísticas levadas a cabo pela encenadora Maria Emília Correia, as quais resultaram melhor de uma perspectiva de dinâmica da acção do que propriamente num enriquecimento de perspectiva sobre Don Giovanni. Em suma, acertou na criação de um bom ritmo de desenvolvimento da acção. Correu pior na criação de uma nova leitura enriquecedora desta ópera.
Entre os cantores, houve uma grande desigualdade de performances. Nicola Ulivieri (Don Giovanni) esteve à altura do papel. Muito seguro como actor, quer nas partes humorísticas, quer nas sérias, demonstrou também na parte musical estar num excelente momento de forma. Kevin Short (Leporello), apesar de ser um excelente cantor, parece não se ter adaptado tão bem no plano vocal a este papel. Esteve melhor como actor do que como cantor. A soprano portuguesa Carla Caramujo (Donna Anna) esteve também a um excelente nível, demonstrando ter um timbre lindíssimo e uma voz forte.
Bastante pior esteve Katharina von Bülow (Donna Elvira) que foi um erro de casting completo. A mezzo-soprano está longe de se adaptar ao papel de Donna Elvira. Foi um autêntico fracasso nos saltos para os agudos, tendo arruinado os brilhantes trios e quartetos em que participou. Finalmente, destaca-se ainda Musa Nkuna (Don Ottavio) – muito bom cantor, apesar de em certos momentos ter denotado um pequeno problema na voz que lhe impossibilitou maior clareza no timbre e uma afinação mais cuidada – e a soprano Chelsey Schill, que desta vez esteve bem no papel interpretado.

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