Entrevista a José Sainz-Trueva


José Manuel de Sainz-Trueva é uma das mais destacadas personalidades da cultura madeirense, tendo realizado um trabalho importante em áreas diversificadas como a investigação de temas históricos madeirenses, a defesa e classificação do património cultural regional, a criação literária (principalmente no campo da poesia) e a divulgação cultural em vários jornais e revistas. Desde 2001, ocupa o cargo de director do Museu de Arte Contemporânea (MAC), espaço que possui uma vasta colecção de arte contemporânea portuguesa desde os anos 60 até hoje.
Tendo em consideração que os Museus são cada vez mais espaços de acção pedagógica essenciais na promoção das artes, o JEEA decidiu entrevistar o director do MAC para saber a sua opinião sobre: (1) a missão do MAC no contexto actual (2); os efeitos benéficos da acção do Serviço Educativo do MAC (3); Os principais desafios colocados aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas.


Jornal Electrónico de Educação e Artes: Qual a missão actual do Museu de Arte Contemporânea na Madeira?

José Sainz-Trueva: O Museu de Arte Contemporânea do Funchal, encontra-se, desde 1992, instalado na histórica Fortaleza de São Tiago, imóvel classificado da RAM, reunindo uma colecção de arte portuguesa dos anos sessenta até hoje, abrangendo nomes de referência absoluta da arte contemporânea, como, Lourdes Castro, Joaquim Rodrigo, Fernando Calhau, Vieira da Silva, Rui Chafes, Pedro Calapez, etc., na qual se inclui também um núcleo de artistas madeirenses. Aspectos vectoriais desta instituição, são a conservação, estudo e divulgação deste acervo, tendo ainda por missão um variado leque de acções que visam a divulgação e valorização da produção artística madeirense contemporânea, e ainda dar continuidade ao enriquecimento da colecção com futuras aquisições.


JEEA: Tendo em consideração a experiência adquirida pelo Serviço Educativo do MAC, quais foram as grandes vantagens da introdução deste género de actividades nos museus?

JS-T: A criação do Serviço Educativo nos museus foi um passo em frente na constituição de um vínculo mais alargado e qualitativo com o seu público diferenciado, permitindo estabelecer relações priviligiadas com as escolas da RAM, que tem sido o fulcro da nossa atenção e objectivo, pela razão de que, sendo mais jovens, estão em condições ideais para receber e trabalhar informação numa área considerada mais sensível como é a arte contemporânea, e,por tal facto, pretendemos junto dessas camadas desmistificar a barreira entre a arte e os seus potênciais fruidores. Resumindo, o MAC tem como objectivos alargados dinamizar o espaço museológico numa vertente, podagógico/didáctica; proporcionar uma maior aproximação entre o público e as linguagens artísticas contemporâneas; sensibilizar para os valores patrimoniais, culturais e estéticos.


JEEA: Vivemos numa época de fortes mudanças sociais, que inevitavelmente influenciam a área da educação. No estado actual do ensino, que desafios se colocam aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas?

JS-T: Naturalmente que não cabe aos museus e aos seus directos agentes, exclusivamente a divulgação, ensino e sensibilização para os aspectos da arte em geral, como factor determinante para a formação da personalidade e do carácter intelectual de cada ser humano. O futuro de cada um de nós, no tempo que se avizinha, é um permanente desafio face às novas descobertas e avanços da ciência e da técnica, à vertiginosa evolução do conceito de arte e ainda no referente aos meios e instrumentos da sua concretização. Só uma permanente acção articulada a começar no próprio ambiente familiar de cada um de nós, passando pelos vários graus de ensino até à própria vida pública, poderá atingir objectivos, no campo da ética e da estética, que nos valorize e enriqueça.
Claro que os museus devem assumir um discurso crítico e uma participação social activa que lhes confira um papel fundamental na divulgação cultural e na promoção da cidadania, nos dias de hoje.

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