Entrevista a Rui Massena

Rui Massena é o Maestro Titular e o Director Artístico da Orquestra Clássica da Madeira (OCM), funções que ocupa desde o ano 2000. Na liderança da OCM, tem realizado um trabalho original no plano nacional tendo conseguido levar a orquestra clássica a públicos mais abrangentes, principalmente através de fusões sinfónicas – orquestradas por si – com estrelas portuguesas da música Pop, World Music e do Jazz, tais como Rui Veloso, Mariza, Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Da Weasel, entre outros. Tendo em consideração os recentes sucessos alcançados na difusão dos instrumentos da orquestra a novos públicos, procurou-se saber a opinião do Maestro Rui Massena sobre: (1) o papel da OCM na Região Autónoma da Madeira (2); os efeitos benéficos das fusões sinfónicas realizadas pela OCM (3) Os principais desafios colocados aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas.

Paulo Esteireiro: Tendo em consideração a sua já longa experiência à frente da OCM, qual deve ser o papel de uma orquestra com as características da OCM na Região Autónoma da Madeira?


Rui Massena: Sendo uma orquestra, sustentada na sua maior fatia , pelo Governo Regional Madeirense, através da Secretaria Regional da Educação, uma clara noção de serviço público é fundamental. Por isso, no meu entender, a OCM deve possibilitar a audição de tudo o que esteja ligado à música orquestral ou de câmara, dentro das suas possibilidades. A recriação das obras históricas, com um critério de rigor na abordagem ao texto original, assim como uma execução tecnicamente irrepreensível, a integração de jovens estagiários e de músicos formados, o apoio aos compositores, solistas, intérpretes de dentro e de fora da Regiao. Uma programação capaz de a ligar à comunidade, assim como uma adequação aos tempos modernos, são também os pilares fundamentais em que assenta a minha ideia de uma Orquestra, ainda para mais, a única na Região.


PE: Numa época em que há quem apelide as Orquestras Sinfónicas de Museus da Música Clássica, as fusões sinfónicas da OCM contradizem um pouco essa imagem. Quais os efeitos benéficos que pretende alcançar com esta sua linha de actuação?

RM: As fusões inserem-se numa época da história universal, em que tudo se mistura. O espírito de confluência é o principal motor dos nossos dias. É importante para nós músicos frequentarmos actualidades musicais e artísticas, para que possamos fazer viver a história com rigor, mas também construí-la com a nossa marca. Outros sons, ritmos, palavras, ambientes, farão de nós músicos responsáveis, mas artistas. Também importante é a possibilidade de apresentarmos, este manancial de cores, que é a orquestra a muitos jovens e adultos, que doutra forma nunca se aproximariam.


PE: Vivemos numa época de fortes mudanças sociais, que inevitavelmente influenciam a área da educação. No estado actual do ensino, que desafios se colocam aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas?


RM: Julgo que a grande concorrência à educação artística é directamente a educação tecnológica. O apelo das novas tecnologias é incrivelmente forte e faz-nos esquecer o trabalho mecânico e por vezes pouco apelativo, em detrimento de um mundo de sensações, onde somos premiados a cada minuto. Será impossível combater estes pressupostos. É importante integrar e encontrar formas de reavaliar a importância da arte nos nossos dias. A palavra é sem dúvida integração dos mundos. Picasso disse em tempos, que depois de aparecer a fotografia, o retrato na pintura deixava de fazer sentido. Motivar para construir tendo um critério de recusa ou aceitação sobre o imediato, motivar para olhar e discutir o homem e os seus sentidos éticos e estéticos, a preservação da filosofia como paradigma do pensamento livre, a sublimação da perfeição humana que contêm a sua natural imperfeição, a admiração pela história, a construção da memória futura, o pensamento livre do homem. Máquina/Homem. Os sentidos. Serão estes alguns dos desafios à educação artística?!

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