Nuno Graceliano Lino “A visita de suas majestades em 1901”

A visita do rei D. Carlos I e da rainha D. Amélia ao arquipélago da Madeira em 1901, entre os dias 22 e 25 de Junho, criou um clima de euforia por toda a ilha. Este entusiasmo encontra-se bem descrito nos jornais da época, que começaram a noticiar a visita dos reis vários meses antes da breve visita. Todas as principais personalidades madeirenses queriam participar nas festividades preparadas para os reis, tendo inclusivamente havido alguma competição na preparação das celebrações.

O programa da visita real incluía de tudo um pouco: recepção aos reis no desembarque no Funchal (ver fotografia); récita de gala no actual Teatro Baltazar Dias; Missa na Sé e Missa campal; Visita aos quartéis militares; passeio nos actuais “carrinhos do monte” à saída da Quinta Choupana (ver fotografia); jantares de gala; e até mesmo um baile na Quinta Vigia com fogo-de-artifício.

Na área artística, a música teve presente em quase todos os momentos. Ora tocando o Hino de Portugal (o anterior, não o actual), a finalizar as intervenções do rei; ora engrandecendo as cerimónias religiosas; ora dando charme aos momentos de gala.

Entre os vários músicos que participaram nas várias orquestras organizadas, destacou-se Nuno Graceliano Lino (1859-1929), a quem coube a honra de dirigir a orquestra que tocou num dos momentos mais importantes da visita: o baile da Quinta Vigia.

Pouco se sabe sobre este músico madeirense. Os poucos dados biográficos que actualmente conhecemos têm quase todos origem no Diário de Notícias de 16 de Fevereiro de 1929, na notícia do seu falecimento. Aqui é referido que Nuno Graceliano Lino foi «um músico distinto e conceituado professor de piano e regente de orquestras». Ainda segundo o mesmo autor da notícia, este músico madeirense, «além de ser apreciado como compositor», foi «organizador de quase todas as orquestras que se faziam ouvir nos salões aristocráticos e nas grandes solenidades da diocese» do Funchal.

No âmbito da música sacra, sabemos ainda que Nuno Graceliano Lino foi organista da Catedral e conhecemos actualmente uma obra sua para orquestra de cordas com flauta e órgão, que terá tido algum destaque na diocese do Funchal ao longo de algumas décadas e que prova o seu elevado nível musical como compositor: uma Sinfonia de Santa Cecília.

A escolha de Nuno Graceliano Lino para dirigir a orquestra do baile da Quinta Vigia é outra das maiores provas do enorme prestígio que o músico deveria gozar na época na Madeira. Neste baile, segundo uma descrição da época, o músico não defraudou as expectativas, como se pode confirmar de seguida:«O baile de recepção que prosseguiu até às quatro horas da madrugada, sempre animado e brilhante, ao som de uma magnífica orquestra regida distintamente pelo Sr. Nuno Graceliano Lino, deixando em todos os convidados recordações gratíssimas que lhe ficarão gravadas, por muito tempo, no espírito como as d’um sonho delicioso, até, então, nunca sonhado» (continua no próximo número).

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