O Barbeiro de Sevilha volta ao São Carlos

A obra-prima e a mais popular composição de Gioacchino Rossini (1792-1868), a ópera cómica Il barbiere di Siviglia, vai ser apresentada no Teatro Nacional de São Carlos no próximo dia 8 de Fevereiro, às 20:00h. Serão ainda apresentadas outras sete récitas nos dias 9, 10, 14 e 15 e 16 de Fevereiro, às 20:00h, e nos dias 11 e 12 de Fevereiro, às 16:00h.

Rossini foi a figura central da ópera italiana na primeira metade do século XIX. Apesar de apenas ter composto durante cerca de 20 anos, o músico italiano completou mais de 40 óperas, que alcançaram grande sucesso um pouco por toda a Europa. Enormes vultos da ópera italiana como Donizetti e Bellini ficaram sempre na sombra de Rossini e apenas no final da década de 50, Verdi destronou o compositor de “Guilherme Tell” e de “O Barbeiro de Sevilha”, na preferência do público.

Apesar de ter vivido mais de 75 anos, Rossini parou de compor óperas extremamente cedo. Em 1829, com apenas 37 anos (!), Rossini compôs a sua última ópera (o grande êxito “Guilherme Tell”). Nos restantes 39 anos – mais de metade da sua vida, saliente-se –, o compositor dedicou-se à direcção do Teatro Italiano de Paris, à direcção do Conservatório de Bolonha, à pedagogia musical e nunca mais compôs.

O abandono prematuro da composição musical de óperas não impediu Rossini de contribuir de modo significativo para o desenvolvimento do género ópera. Entre as suas mais importantes contribuições, que foram aproveitadas por quase todos os sucessores no género, contam-se o abandono por completo do recitativo sem acompanhamento orquestral, que possibilitou uma maior continuidade musical durante o espectáculo; e a escrita musical de todas as partes virtuosas e ornamentadas dos cantores, não deixando liberdade para acasos nas partes de canto.


Il barbieri di Siviglia – Aventuras de Figaro antes de Beaumarchais

A ideia para a composição de Il barbiere di Siviglia advém da grande admiração de Rossini por Beaumarchais, em especial pela sua peça Figaro, que o compositor italiano considerava conter todo o material ideal para uma ópera. No entanto, Rossini não parte directamente de Beaumarchais. O seu ponto de partida é o libreto escrito para uma das óperas de Giovanni Paisiello (1740-1816), também baseada na obra de Beaumarchais, onde Rossini viu um enorme potencial por explorar. Também intitulada de Il barbiere di Siviglia, a obra de Paisiello inventava algumas aventuras antecedentes que Figaro teria protagonizado, antes de Beaumarchais.

A intriga da história pode ser resumida do seguinte modo: «O Conde Almaviva, disfarça-se de um pobre estudante chamado Lindoro, de modo a seduzir a bela Rosina. Almaviva tem, no entanto, que ultrapassar o velho Dr. Bartolo que também pretende casar com Rosina. Figaro, o barbeiro do Conde, oferece-se para ajudá-lo. Seguem-se as várias cómicas peripécias do Conde Almaviva e do Dr. Bartolo na procura de desposar Rosina.»
Entre as várias curiosidades em redor de Il barbiere di Siviglia, conta-se que a partitura (três horas de música) terá sido composta em apenas duas semanas. Apesar do pouco tempo dispensado à composição desta ópera (Rossini teve mesmo que reaproveitar uma sua antiga abertura que já havia utilizado por duas vezes), Il barbiere di Siviglia é bastante rica em ideias musicais. O próprio Verdi caracterizou Il barbieri como uma «abundância de verdadeiras ideias musicais». Em apenas quarenta minutos de música estão condensados nove (!) dos mais populares momentos da história da ópera.

A ária de Figaro «Largo al factotum» é um desses momentos mais conhecidos. Nesta ária, o compositor utiliza o designado e super energético "Rossini crescendo", efeito que consiste na criação de pontos de tensão e repouso através da repetição de pequenas frases, que vão sendo progressivamente tocadas com maior intensidade e rapidez à medida que a ária se desenvolve. Este efeito é característico da música de Rossini e abunda em Il barbiere di Siviglia.
Em contraste com estes momentos "explosivos" alcançados pelo "Rossini crescendo", existem momentos que podemos designar de tranquilidade, que evitam alguma monotonia que poderia resultar de um excesso de energia. São momentos centrados nas figuras amorosas tais como a ária de Almaviva "Ecco ridente" e o seu dueto com Rosina "Contro un cor".

A direcção musical é da responsabilidade de Jonathan Webb e a encenação de Emilio Sagi. Os oito espectáculos serão interpretados por dois elencos de grandes vozes do panorama lírico nacional e internacional: Marius Brencius (8. 10. 12. 14. 16. Fev.) e Mário João Alves (9. 11. 15. Fev.) interpretam o jovem Conde de Almaviva; Bruno Praticò (8. 10. 12. 14. 16. Fev.) e Filippo Morace (9. 11. 15. Fev.) emprestam a voz ao Dr. Bartolo; Kate Aldrich (8. 10. 12. 14. 16. Fev.) e Natalia Gavrilan (9. 11. 15. Fev.) interpretam a bela Rosina; Franco Vassallo (8. 10. 12. 14. 16. Fev.) e Luís Rodrigues (9. 11. 15. Fev.) desempenham a personagem de Figaro, o barbeiro; Enrico Iori interpreta o papel de Basilio, o professor de música; Luís Rodrigues (8. 10. 12. 14. 16. Fev.) e Diogo Oliveira (9. 11. 15. Fev.) cantam Fiorello, o criado de Almaviva; e Elvira Ferreira dá corpo a Berta, a camareira de Bartolo.

Comentários

Anónimo disse…
Lamento que tenha sido tão mau, desde a direçao da orquestra à encenação. Esta, sobretudo, confusa, sobrecarregada de efeitos dispersantes, procurando um cómico que achei francamente duvidoso. Os cantores funcionaram portanto nesse mesmo registo. Além de que cantaram mal, frequentemente gritaram, não cantaram. Gostava de saber a sua opinião. A.C.
Unknown disse…
Caro A.C.
Lamento imenso, mas desta vez, por motivos profissionais, não pude assistir a esta encenação do "barbeiro".
Nem tenho sequer opinião, porque ainda não falei sobre esta produção com a pessoa que me substituíu na crítica.

A troca de ideias fica prometida para a próxima ópera.

PE