Luiz Peter Clode (Parte II) “As origens do CEPAM”



No início da década de 40, Luiz Peter Clode organizou, em colaboração com o seu irmão William Clode e algumas figuras de destaque da sociedade madeirense, uma Sociedade de Concertos, no seio da qual surgiu a Academia de Música da Madeira, escola de artes que é a antepassada do actual conservatório. A Sociedade de Concertos da Madeira (SCM) foi fundada em 1943, com o propósito de fomentar a «arte musical» na Madeira, em proveito cultural de «uma sociedade de elite». Com esse objectivo, a SCM deveria organizar concertos, conferências, festas de artes, que integrassem artistas madeirenses e continentais de mérito reconhecido.

Apesar do objectivo assumidamente elitista, os Estatutos da Sociedade mantinham as portas abertas a concertos populares, defendendo mesmo a determinado ponto, que poderiam ser promovidos concertos para o público geral, com os artistas contratados pela SCM. Por exemplo, o actual “Auditorium” do Jardim Municipal (Funchal) foi inaugurado num espectáculo da Orquestra de Concertos da Emissora Nacional, organizado pela Sociedade de Concertos da Madeira, que contou com a assistência de milhares de pessoas (ver imagem do concerto de inauguração).
Os concertos populares ao ar livre foram inclusivamente realizados em vários locais do Funchal. Normalmente integrados nos Festivais de Música da Madeira, também da responsabilidade da SCM, estes concertos foram organizados em espaços tais como a Quinta Magnólia e o Largo do Município, tendo o seu auge decorrido principalmente ao longo da década de 50.

Nos espectáculos da SCM figuraram por vezes obras de Luiz Peter Clode, que foram tocadas por alguns dos destacados músicos que actuaram através da Sociedade. Entre as obras mais importantes do Engenheiro-Músico, contam-se três peças para piano – “Canção de Amor”, op. 23, “Fantasia N.º 1”, op. 12 e a “Fantasia N.º 2”, op. 31 – e uma obra sacra, um “Tantum Ergo” para duas vozes e órgão. Estas quatro obras tiveram inclusivamente a notoriedade de serem impressas.

Em Outubro de 1945, no seio da SCM, os irmãos Clode propõem a criação de uma Academia de Música, para aproveitar as vocações no domínio da música. Um ano depois, a proposta concretiza-se e a Academia de Música da Madeira é oficialmente inaugurada em 13 Novembro de 1946.

No plano curricular, a Academia seguiu desde o início os modelos do Conservatório Nacional. Esta harmonização com os programas do Conservatório de Lisboa valeu posteriormente aos alunos da Academia de Música, o reconhecimento legal das suas habilitações a nível nacional, situação que ainda hoje se mantém.

A Academia de Música da Madeira durou 28 anos, grosso modo, com esta designação (ainda se chegou a designar de Academia de Música, Belas-Artes e Línguas da Madeira). No entanto, como refere muito bem o historiador José Vieira Gomes, em «última análise, os dois novos estabelecimentos de ensino que se seguiram com os nomes de Conservatório de Música da Madeira e Instituto de Artes Plásticas não foram mais do que o antigo estabelecimento que existiu durante 28 anos». Deste modo, é possível defender que, no próximo dia 13 de Novembro de 2006, o CEPAM atinge os 60 anos de existência, uma data que merece ser comemorada com alguma pompa, bem merecida. Ao longo de quase seis décadas, a Academia de Música e, posteriormente, o CEPAM, formaram a centenas de profissionais que são a prova da boa formação ministrada por esta instituição madeirense. Muitos das personalidades que hoje em dia lideram e protagonizam a nossa vida musical obtiveram formação na Academia e no CEPAM. No plano musical e do ensino, destacam-se o tenor e compositor João Victor Costa, o pianista de Jazz Tony Amaral Júnior, a violetista Zita Gomes, o violoncelista Agostinho Henriques, o maestro Fernando Eldoro, o pianista João Atanásio, o flautista Agostinho Bettencourt e o pianista João de Deus; no plano musicológico, realçam-se o Prof. Rufino Silva e o Prof. Vitor Sardinha, que também se tem destacado como guitarrista; finalmente, no plano do ensino e da administração pública, salientam-se os nomes de Carlos Gonçalves (Director de Serviços do Gabinete Coordenador de Educação Artística) e José Pereira Júnior (Director de Serviços de Animação Turística na Direcção Regional de Turismo).

Comentários

Anónimo disse…
Deveria mencionar o número de alunos que hoje o frequenta, ainda a predominância dos alunos por área geográfica da ilha. Dar conhecimento se está a haver adaptação dos actuais currículos de modo a cobrir os alunos em mais tenra idade, deve ser dada ênfase à importância do excelente trabalho que está a ser feito pelo Ilustre açoriano em nos Açores e agora em Lisboa por António Melo, maestro da Lira Açoriana(Orquestra), responsável por diversos trabalhos de divulgação da música mesmo considerando a dispersão geográfica das ilhas açorianas, deveria ser convidado sua esposa é madeirense.