Yo-Yo Ma toca J. S. Bach na Gulbenkian


O mediático violoncelista Yo-Yo Ma vai realizar um recital no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). O concerto decorre no próximo dia 30 de Novembro, às 19:00h, e integra-se no âmbito do ciclo de música de câmara, organizado pela FCG.

Diplomado pela Universidade de Harvard em 1976, tinha apenas 21anos, Yo-Yo Ma construiu desde então uma carreira musical exemplar, sendo actualmente um dos artistas com maior êxito comercial do meio clássico. O violoncelista atingiu o confortável estatuto de artista exclusivo da Sony Classical e a sua discografia é constituida por mais de 75 álbuns, dos quais 16 foram inclusivamente vencedores de prémios Grammy – um facto sem dúvida extraordinário para um violoncelista.

Para este enorme e invulgar sucesso, muito contribuiu a personalidade carismática, aventureira e curiosa de Yo-Yo Ma, que constantemente tem procurado ultrapassar as fronteiras e os limites estabelecidos pela tradição clássica ocidental. Ao longo dos quase trinta anos de carreira, o violoncelista buscou inspiração num conjunto ecléctico de colaboradores musicais, com os quais construiu programas inovadores e desafiadores das categorias tradicionais, muitos dos quais tiveram grande impacto mediático. Entre esses trabalhos salientam-se as gravações de: “Hush”, com o fantástico Bobby McFerrin; “Appalachia Walz” e “Appalachian Journey” (vencedor de um Grammy), com Mark O’Connor e Edgar Meyer; “Vivaldi’s Cello”, com o especialista em música barroca Ton Koopman; e as duas recentes homenagens à música brasileira em “Obrigado Brazil” e “Obrigado Brazil – Live in Concert” (ambas produções foram também premiadas com o prémio Grammy).

Contrariamente a este lado explorador e desafiador do violoncelista, o programa que Yo-Yo Ma vai apresentar na FCG é algo conservador, sendo constituído por três das seis Suites para violoncelo de J. S. Bach (Suite para Violoncelo N.º 3, em Dó Maior, BWV 1009; Suite para Violoncelo N.º 5, em Dó menor, BWV 1011; e Suite para Violoncelo N.º 6, em Ré Maior, BWV 1012), obras que o violoncelista já interpretou repetidas vezes. Inclusivamente, ficou célebre um documentário com Yo-Yo Ma, em que o músico influenciou a construção de um jardim musical no Canadá, cujo formato foi inspirado nas emoções e formas destas Suites.

As Suites para Violoncelo de J. S. Bach

As seis Suites para Violoncelo de Bach foram compostas por volta de 1720 (desconhece-se a data exacta das composições), mas apenas conheceram a primeira impressão 100 anos mais tarde, em 1825. O propósito para que terão sido compostas é igualmente incerto, acreditando-se que terão sido criadas para dois violoncelistas da corte de Cöthen, onde Bach trabalhou: Bernard Linigke, que foi indubitavelmente o primeiro intérprete das Suites, e Karl Ferdinand Abel.

No plano formal, as Suites seguem o modelo da suite de danças, tendo sempre a seguinte sequência: Allemande – Courante – Sarabande – Menuets ou Bourrée ou Gavotte – Gigue. A principal diferença em relação à habitual sequência da suite de danças é a inclusão de Prelúdios na introdução de cada uma das seis suites, que constituem os números musicais mais inesperados e complexos destas seis obras. No geral, as danças são peças alegres e ligeiras de carácter, contrastando com este espírito principalmente as sarabandas (danças mais lentas), que são marcadas por uma expressividade geralmente mais intensa, grave, elegante e sóbria.

A principal riqueza e inovação destas obras consiste na ilusão harmónica criada pelas linhas melódicas de Bach. Embora Bach não tenha sido o primeiro compositor a escrever para violoncelo solo, o compositor germânico conseguiu, como mais ninguém até então, criar no violoncelo a ilusão do contraponto, da polifonia e da progressão harmónica (ao estilo do baixo cifrado do barroco) através de uma escrita idiomática para violoncelo em uma única linha melódica.

Nas três suites que integram o programa, destacam-se a fabulosa Suite N.º 5, que inicia com um dos mais famosos prelúdios de Bach (com um fantástico episódio fugado), e que o próprio compositor transcreveu para alaúde; e a Suite N.º 6, que foi composta para um instrumento de 5 cordas («viola pomposa») e que, devido à sua escrita mais persistente na tessitura aguda, é algo difícil de executar num violoncelo normal.

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