Stockhausen


Stockhausen vem novamente ao Grande Auditório Gulbenkian protagonizar dois concertos, em que os programas são exclusivamente compostos com música do compositor germânico. Os dois concertos vão decorrer nos dias 12 e 13 de Novembro, às 19:00h, e enquadram-se no âmbito do ciclo de música contemporânea, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Stockhausen é certamente um dos compositores europeus mais prolíferos e influentes da segunda metade do século XX, sendo normalmente considerado o compositor germânico mais importante da sua geração. A sua produção musical e filosófica conta com uma longa lista de obras musicais originais – mais de 300 composições – e uma colecção de 10 livros publicados com apontamentos estéticos e explicações sobre as suas próprias obras – intitulada Textos sobre Música. Um último número: a música de Stockhausen está presente em mais de 100 CD’s.

A importância de Stockhausen e o seu pioneirismo experimental vêm desde os primeiros tempos do pós-guerra. Nesse período de indefinição estética, Stockhausen e um conjunto de compositores procuraram acabar definitivamente com as influências ainda restantes do romantismo na música e, simultaneamente, encontrar um método de estruturar os elementos musicais que fizesse “tábua rasa” com o passado. A solução encontrada foi o serialismo, método de composição cujos princípios Stockhausen achava derivar da Natureza. A seguir ao serialismo, o compositor germânico foi pioneiro em praticamente todas as principais inovações musicais surgidas na segunda metade do século XX, desde a música electrónica, passando pela música aleatória e a introdução da estatística musical, até à exploração do conceito de espaço na música.

O cariz experimentalista e a constante busca de inovações musicais são inclusivamente duas das características mais marcantes da actividade de Stockhausen como compositor. Perto de chegar aos 80 anos – nasceu em 1928 –, o compositor continua a ser uma das figuras centrais da vanguarda musical, onde já permanece há mais de 50 anos.

Ao longo deste mais de meio século, as suas experiências musicais e posições estéticas abrangeram todos os principais parâmetros musicais, tendo Stockhausen sido inovador na organização das Alturas do Som – exploração de microtons e na construção de microescalas –, no Tempo Musical – justaposição de tempos e exploração da bidimensionalidade do tempo –, no timbre – inventou várias escalas de timbres originais – e nas dinâmicas – com o software Pro Tools, por exemplo, construiu mais de 100 graus de intensidades do som.

Esta constante procura de inovação é bastante meritória mas também tem consequências negativas na percepção auditiva da obra de Stockhausen, que está longe de ser um compositor preocupado com a fácil perceptibilidade da sua música. Deste modo, procurar apreciar a sua música acaba por ser como desfrutar daqueles aparelhos tecnológicos complexos, que obrigam a devorar um livro de instruções assustador, antes da sua utilização.

Segundo o próprio Stockhausen, esta dificuldade de percepção é natural porque as pessoas ainda não aprenderam a distinguir tantos graus de dinâmicas como as que desenvolveu no Pro Tools (os tais cerca de 100 níveis de intensidades), nem a diferenciar as muitas escalas de timbres por si desenvolvidas ou mesmo o modo como a sua música se movimenta pelo espaço. Enfim, sempre sobra a possibilidade de estudar a fundo os seus 10 volumes de Textos sobre Música.

As três obras que preenchem o programa dos concertos em Portugal são Hymnen (12 de Novembro), Wednesday Greetings e Kontakte (13 de Novembro). Hymnen (1966-7) é uma obra de música electrónica e concreta, em que cada uma das suas quatro secções representa uma região do mundo, e onde Stockhausen manipula e funde hinos musicais de vários países (hinos africanos, russo, americano, a Marselhesa, o hino espeanhol, entre outros). Wednesday Greetings (1998) é a obra mais recente do programa, sendo composta para coro, voz de baixo com receptor de ondas curtas, flauta, trompete, trombone, sintetizador, banda magnética, 2 bailarinos e projeccionista de som. Finalmente, o último espectáculo encerra com Kontakte (1959-60), uma das obras mais famosas do compositor e da música electrónica.

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