Sexteto Dr. Passos Freitas (I) “Para a história das gravações áudio em Portugal”

Segundo os conhecimentos actuais, o primeiro disco gravado em Portugal data de 1903, já lá vão mais de 100 anos. O acontecimento causou algum espanto aos músicos que participaram nessa gravação, tendo o oficial da armada Rio de Carvalho descrito o momento em que os músicos viram a chegada da máquina de gravação: «Vários praças trouxeram um grande e pesado caixote para o meio da caserna [...]. A meu lado o senhor Castelo Branco da loja das máquinas falantes que tinha conduzido junto do Comandante do Corpo todas as diligências para a gravação do disco e que acompanhara o inglês que vinha fazer a gravação e todos assistimos cheios de natural curiosidade...»

A honra desta primeira gravação em Portugal coube na altura à Banda dos Marinheiros, antepassada da Banda da Armada Portuguesa, que gravou no primeiro trimestre de 1903 nove peças (informação fornecida pelo compositor Jorge Salgueiro), entre as quais os “Cantos Populares Portuguezes, n.º 2” – o primeiro tema a ser gravado –, peça de um compositor do qual pouco mais se sabe do que o seu último nome: Rodriguez.

Como é fácil de presumir, a gravação de um disco no início do século XX era bem mais complicada do que actualmente. Se hoje em dia qualquer pessoa consegue gravar um disco, mesmo domesticamente, tal não acontecia em 1903, ano em que quase ninguém tinha sequer acesso aos antepassados dos leitores de CDs e “gira-discos”: os gramofones. Como conta o investigador Alberto Cutileiro, em 1903, na cidade de Lisboa, além do rei, «só meia dúzia de ricaços possuíam os complicados e estranhos aparelhos munidos de enormes campânulas, que os eruditos conheciam pelo nome de gramofones e que popularmente eram designados de “máquinas falantes”».

Na Madeira, desconhece-se ainda com rigor quem terão sido os primeiros intérpretes madeirenses a gravar um disco, sendo o assunto um terreno inexplorado onde cada afirmação tem de ser feita com muitas reservas, visto que pode ser desmentida logo de seguida.
Segundo informações prestadas pela Prof. Lígia Brazão, é plausível que os primeiros discos tenham sido gravados em 1928 pelo Sexteto Dr. Passos Freitas, grupo liderado pelo seu tio Fernando Clarouin. Curiosamente, apesar do Sexteto ter o seu nome, o Dr. Manuel dos Passos Freitas não integrava o grupo. O nome atribuído ao sexteto foi uma forma de os seus intervenientes homenagearem o advogado madeirense, que terá sido o principal responsável pela criação da Orquestra de palheta Dr. Passos Freitas, no seio da qual se formou o Sexteto em 1920.

Já com oito anos de experiência, em 5 de Maio 1928, era anunciado no Diário de Notícias que o Sexteto Dr. Passos Freitas iria embarcar a 17 desse mês para Inglaterra, numa viagem marcante para a história da música da Madeira e que iria resultar na gravação de vários discos para a Sociedade «His Master’s Voice» (continua).

Comentários