Nova Temporada Lirica do São Carlos


Lisboa
TEMPORADA LÍRICA DE 2005-06
Verdi. OTELLO.
Malagnini, Theodossiou, Guelfi, Guilherme e outros. Dir.: A. Pirolli. Dir. esc.: N. Joel. Teatro Nacional de São Carlos, 31 de Outubro.

A nova temporada lírica do São Carlos de Lisboa começou com uma representação de Otello de bom nível. Entre os cantores, o destaque vai para o excelente barítono Carlo Guelfi, que soube aproveitar a riqueza dramática e musical do papel de Iago, e que, tal como nas suas anteriores apresentações no São Carlos, se apresentou em grande forma. Guelfi tem um timbre extremamente belo, uma voz forte, sem ser rude ou selvagem, e uma capacidade de expressão muito elevada sem cair nos ridículos caricaturais, habituais em alguns cantores de ópera. A sua representação foi extremamente natural, conseguindo o barítono expressar de forma convincente as diferentes facetas da rica personagem que é Iago. Ora foi doce e honesto; ora foi sorrateiro, maléfico e calculista. Em suma, nota máxima para Guelfi.

Nos restantes cantores, destacaram-se ainda o tenor Mario Malagnini (Otello) e a soprano Dimitra Theodossiou (Desdemona). Malagnini é um tenor fantástico, extremamente perfeccionista no plano técnico-vocal e com um timbre muito belo. Apenas esteve mal no plano da expressão corporal e dramática, tendo sido um Otello algo superficial, patético e com pouca força. Ficou-se na dúvida se a culpa foi do cantor ou da encenação. O certo é que a personagem pareceu secundaríssima e sem profundidade humana. Já Theodossiou conseguiu explorar a personagem de Desdemona ao máximo, conseguindo brilhar nos poucos momentos de brilho que Verdi proporcionou à personagem e dando-lhe mesmo alguma profundidade humana (algo difícil, principalmente com aquele final...). A sua expressividade foi excelente e a soprano demonstrou mais uma vez ter uns agudos invejáveis, nos tais “poucos momentos” do papel.

A encenação de Nicolas Joel foi satisfatória, tendo alternado entre momentos de bom efeito – a projecção de imagens de mar no início e a movimentação do coro ao longo da apresentação – e momentos menos conseguidos – a dimensão humana de Otello foi muito reduzida e a generalidade do trabalho com os actores pareceu algo superficial (à excepção de Iago, que foi nitidamente o papel mais importante para Joel).

A Orquestra esteve bem sabendo aproveitar uma das partes orquestrais de Verdi mais expressivas, virtuosas e interventivas do repertório do compositor italiano. Apenas esteve mal nos pequenos pormenores – vários instrumentos estiveram longe do uníssono desejado nas partes em piano (principalmente os contrabaixos) – e nos fortes do tutti orquestral, que poderiam ter soado mais afinados. Finalmente, o Coro esteve bastante compacto, tendo sido protagonista de alguns dos melhores momentos do espectáculo.

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