Mingus – Big Banda : Orchestra : Dynasty “I am Three”


O baixista e compositor Charles Mingus (1922-1979) foi um dos músicos norte-americanos mais importantes do século XX. Após se estabelecer em Nova Iorque nos anos 50, onde tocou com os principais músicos de então (Charlie Parker, Duke Ellington, Miles Davis, Bud Powell, entre outros), Mingus assumiu a liderança da vanguarda musical, tendo gravado mais de 100 álbuns e composto cerca de 300 músicas originais.


“I am Three” é um álbum de tributo a Mingus, realizado por alguns dos seus antigos colaboradores, onde o repertório original do compositor é arranjado para três diferentes tipos de formações instrumentais: a “Mingus Big Band” (Big band tradicional), a “Mingus Dynasty” (septeto de jazz) e a “Mingus Orchestra” (orquestra de câmara invulgar, que mistura saxofones, fagote, clarinete, trompa, trompete, etc.).


O álbum é bastante variado, reflectindo bem a riqueza de opções estéticas seguidas por Mingus. Desde o blues formalmente complexo em “Song with Orange”, composto para um drama televisivo, ao qual o arranjista John Stubblefield apelidou de “suite de blues” (tocado pela Big Band); passando por “Chill of Death”, peça de inspiração clássica (em Mahler e Wagner), interpretada pela Mingus Orchestra; “Cell Block F’Tis Nazi USA”, obra de intervenção política sobre uma prisão no Sul profundo dos USA na década de 70 (tocado pelo septeto “Mingus Dynasty”); até ao simples e inocente blues de “Paris in Blue”, sobre o fim do primeiro casamento de Mingus.


Os temas musicais parecem nunca escassear e têm sempre um forte carácter emocional bem definido, sendo desenvolvidos sempre coerentemente, não havendo secções que possamos apelidar de supérfluas ou de mal conseguidas.


Tal deve-se em parte ao facto de Mingus ser um compositor com uma faceta estética muito elevada, tendo inclusivamente deixado um tratado sobre composição onde tinha várias ideias interessantes, entre as quais a sugestão da inclusão da improvisação na música clássica (não podendo naturalmente ser qualquer tipo de improvisação), de modo a vitalizar a sua renovação musical – um problema central da música clássica, nem sempre bem resolvido, fazendo com que a principal música da “sala de concertos” seja ainda hoje a dos séculos XVIII, XIX, muito pouca da primeira metade do séc. XX (e mesmo nada da segunda metade). Cerca de 30 anos depois, a sua sugestão não podia estar mais actualizada.

Mingus – Big Banda : Orchestra : Dynasty, “I am Three”, 76’30’’, Universal

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