Otello de Verdi

A nova temporada lírica do Teatro Nacional de São Carlos tem início no próximo dia 31 de Outubro, às 20:00h, com a ópera Otello de Giuseppe Verdi (1813-1901).


Verdi foi o compositor mais importante da ópera italiana da 2.ª metade do século XIX, sendo actualmente um dos autores mais populares nas casas de ópera e entre os cantores líricos. Caricaturalmente, há mesmo quem defenda que a história da ópera italiana entre 1850 e 1900 é a história de Giuseppe Verdi, importância essa que não se perdeu com o tempo. Mais de 100 anos depois, a sua popularidade ainda é enorme nas casas de ópera, rivalizando Verdi com nomes como Mozart, Wagner e Puccini – por exemplo, cerca de 12 óperas do compositor italiano estão em constante circulação pelas melhores salas de ópera internacionais.


Otello é uma dessas 12 óperas que ainda estão vivas no circuito internacional. Pertencente ao período tardio do compositor, a sua origem encontra-se num jantar entre Verdi e o famoso editor Giulio Ricordi, em 1879. Segundo o próprio Ricordi, nesse jantar a conversa encaminhou-se para Shakespeare e Arrigo Boito, tendo o editor notado um enorme interesse de Verdi quando o tema foi Otello. Ricordi combinou então um encontro entre Boito e Verdi que, apesar de não ter resultados imediatos, viria a dar frutos cinco anos mais tarde em 1884, ano em que Verdi começou a compor a ópera sobre o libreto de Boito, adaptado a partir da obra Othello, The Moor of Venice de Shakespeare.


Verdi concluiu Otello no final de 1886 e logo no início de 1887 deu-se a estreia da ópera no La Scala, tendo sido um dos acontecimentos mais mediatizados na época. Verdi, que já era considerado o compositor mais importante de Itália, não estreava uma ópera sua há mais de 15 anos e, por esse motivo, críticos de vários pontos da Europa foram a Itália assistir à estreia absoluta de Otello.


Musicalmente, Otello reflecte bem a mudança de estilo musical que ocorreu ao longo da vida do compositor, desde uma música mais melodiosa, mas “quadrada” na relação entre texto e música, para uma música mais expressiva e onde o carácter emocional do texto tem mais influência na “moldagem” da melodia. Ou seja, a expressividade e carácter das melodias de Otello pouco têm a ver com as frases melodiosas mas mais “quadradas” ou, talvez melhor, mais estróficas de Nabbuco, por exemplo.


Este aumento da vertente expressiva não teve consequências na beleza melódica, sendo essa uma das maiores vitórias do compositor. Em Otello, Verdi conseguiu de forma brilhante fundir o melodismo italiano com algumas técnicas frequentes da ópera alemã: os números musicais seguem sem divisões, nem “pedidos de aplausos”, empurrando sempre o drama “para a frente”; leitmotifs e relações tonais são utilizadas para dar relevância a determinados momentos da história (exemplo do motivo do “beijo”, usado no dueto de amor e mais tarde na cena da tragédia final).


No plano emocional, as partes vocais contêm mudanças emocionais muito ricas e inesperadas, que atribuem às personagens uma maior complexidade e profundidade emocional. Otello, no seu monólogo “Dio mi potevi scagliar”, perante a alegada infidelidade alterna entre momentos musicais marcados pelo desespero e momentos onde a raiva é a emoção dominante; Iago, o vilão da história, varia entre uma face afável e diplomática, e outra vertente perversa, bem ilustrada em “Credo”.


Sobre a história de Otello, na versão de Arrigo Boito para Verdi, esta pode ser resumida, grosso modo, da seguinte maneira. Otello, governador veneziano de Chipre, é esperado na ilha após ter derrotado os turcos. Ao chegar, depara-se com várias rivalidades entre alguns dos seus mais importantes cidadãos – Iago, Cassio e Montano –, acabando o recém-promovido Cassio por ser preso e o seu lugar ocupado por Iago. Iago começa então a insinuar a Otello, falsamente, que a sua mulher Desdemona está a ter um caso com Cassio. Corroído pelo ciúme, Otello começa então uma investigação, viciada por Iago, que culmina com a morte de Desdemona às mãos de Otello, apesar de esta clamar a sua inocência. No final, Otello apercebe-se que errou e suicida-se.

A direcção musical está à responsabilidade do maestro Antonio Pirolli, enquanto que a encenação está a cargo de Nicolas Joel. Entre os cantores destacam-se Mario Malagnini (Otello), Dimitra Theodossiou (Desdemona) e Carlo Guelfi (Iago).

Comentários

Anónimo disse…
Gostei muito deste artigo.Concordo perfeitamente que de facto em Otello é evidente esta nova vertente operática deste compositor de que tanto gosto, a imensos níveis:a essência das árias e melodias,o libretto... Enfim, porém caracteristícas que não comprometem em nada a beleza desta grande ópera. São memoráveis e de louvar o belo "Ave Maria" de Desdémona, o dueto de amor entre Otello e Desdemona, o acompanhamento da orquestra, "Piangea Cantando", entre outros...



Muito bom!:D