“Bandas Filarmónicas Madeirenses”


Um dos maiores problemas para quem escreve sobre a música madeirense e a pretende divulgar é a falta de gravações musicais sobre autores madeirenses. Neste panorama algo desolador, é naturalmente bastante louvável a iniciativa da Associação Musical e Cultural Xarabanda de gravar oito autores madeirenses, que compuseram obras para Bandas Filarmónicas.

Nos últimos cerca de 150 anos, as Bandas Filarmónicas ocuparam um lugar de destaque na cultura musical madeirense. Instituições bem organizadas, com estatutos e uma hierarquia definidas, as Bandas descentralizaram a música e proporcionaram nas várias localidades da Madeira uma música de qualidade superior, bem como a formação de novos músicos. Em localidades onde a música estava longe do refinamento atingido em meios urbanos, as Bandas levaram uma enorme riqueza e variedade de instrumentos, uma música com bons princípios de harmonia e contraponto, e compositores de fama internacional.

Em consequência disso, as Bandas trouxeram uma maior dignidade e variedade a várias situações sociais, que até então nem sempre tinham uma música de nível superior nas localidades mais rurais, tais como: procissões religiosas, festas das vilas, funerais, acontecimentos solenes, entre outros. Infelizmente, “Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses” não mostra este lado multifacetado das Bandas, perdendo por isso algum valor como documento histórico. As músicas escolhidas variam entre as músicas mais conservadoras compostas para comemoração de uma data especial (“138.º Aniversário da Banda Municipal do Funchal Artistas” de Raul Serrão e “Duas Pátrias” de Moisés Alves Pita”) e as mais recentes e modernas músicas realizadas para a “sala de concertos” (“Pérolas da Minha Vida” de Aquilino Domingo e “Solmente” de Francisco Loreto).

Apesar desta lacuna, este disco ilustra muito bem algumas gerações de compositores madeirenses que se dedicaram ao Universo das Bandas Filarmónicas – ao longo do século XX –e que procuraram elevar o seu nível musical. Primeiro, como alunos e executantes; mais tarde, como regentes, orquestradores e compositores: a geração dos anos 20 e 30 com Moisés Alves Pita (1922-2002), José da Costa Miranda (1928-1987), Raul Gomes Serrão (1934) e João Figueira Quintal (1934); a geração da década de 50 com Alberto Cláudio Barros (1954) e José António Faria (1954); e uma geração mais recente com Aquilino Domingo da Silva (1967) e Francisco Loreto (1974).

Orquestra de Sopros do CEPAM, “Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses”, 37‘55’’, Associação Cultural e Musical Xarabanda

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