Um Oásis chamado FIOL



A homenagem ao compositor português Luís de Freitas Branco, nos 50 anos da sua morte, e o concerto de Gustav Leonhardt são dois dos destaques do VIII Festival Internacional de Órgão de Lisboa (FIOL), que decorre este ano entre os dias 23 de Setembro e 10 de Outubro.

O FIOL é um dos acontecimentos musicais mais entusiasmantes da cidade de Lisboa, tendo conseguido em poucas edições dinamizar vários elementos da vida organística lisboeta. Os principais organistas de Lisboa têm actuado regularmente no FIOL, constituindo este evento um dos pontos altos do ano para estes concertistas; a nova geração de jovens intérpretes tem sido também contemplada com um pequeno espaço de participação; o repertório de compositores portugueses para órgão é sempre central na programação do Festival, onde simultaneamente não são esquecidos os principais temas de música para órgão do plano internacional; o público tem mostrado apreciar bastante os concertos, enchendo frequentemente as igrejas de Lisboa nos espectáculos; os órgãos de Lisboa têm sido reaproveitados, existindo alguns instrumentos que têm sido restaurados por influência indirecta do FIOL. Em suma, um sucesso.

A preservação e valorização dos órgãos de tubos de Lisboa são, inclusivamente, dois pontos incontornáveis do FIOL e, porventura, duas das consequências positivas mais importantes deste evento. Por exemplo, segundo os directores artísticos do Festival – António Duarte e João Vaz –, «no momento em que se inicia a oitava edição do Festival, diversos órgãos estão em restauro, reparo ou construção», entre os quais se destacam o restauro do órgão histórico da Igreja de Santa Catarina, a «revisão profunda» do órgão da Igreja Evangélica Alemã, e a construção do «novo grande-órgão da Igreja de Nossa Senhora do Cabo» (Linda-a-Velha).

Tudo isto, sem falar ainda nos grandes nomes do órgão internacional que têm passado por Lisboa no âmbito do FIOL e que deixam evidentemente marcas no público e nos jovens organistas portugueses. Este ano, embora o destaque vá para o concerto de Gustav Leonhardt (no passado dia 27 de Setembro), outros intérpretes merecem igual relevo: no dia 1 de Outubro, às 21:30h (Igreja de São Vicente de Fora), o especialista em música ibérica José Luís Echechipia interpreta obras de Antonio Soler, António Carreira, Pedro Araújo, entre outros; no dia 7 de Outubro, igualmente as 21:30h (Sé Patriarcal de Lisboa), o organista Wolfgang Zerer, perito em música antiga alemã, realiza um concerto com obras de J. S. Bach; e no dia 9 de Outubro, às 16:30h (Basílica da Estrela), Roberto Antonello, organista especializado em música italiana, executa obras de Benedetto Marcello, Baldassarre Galuppi, Giuseppe Tartini, entre outros.

No âmbito da homenagem ao compositor Luís de Freitas Branco, nos 50 anos da sua morte, a programação do FIOL deste ano inclui dois concertos dedicados ao “introdutor do modernismo em Portugal”. No dia 6 de Outubro, às 21:30h (Igreja de São Luís dos Franceses) o organista António Duarte e o Grupo Vocal Olisipo realizam um concerto intitulado “Música Coral de Órgão de Luís de Freitas Branco”; enquanto que no Concerto de Encerramento – 10 de Outubro, às 21:30h (Sé Patriarcal de Lisboa) –, o organista António Esteireiro, o Coro de Câmara de Lisboa e a Orquestra Sinfónica Juvenil (dirigida por Christopher Bochmann) interpretam “Música Coral e Sinfónica de Luís de Freitas Branco”.

Infelizmente, o FIOL é ainda uma espécie de Oásis no panorama organístico português, ficando muitos dos órgãos de Lisboa quase ao abandono durante o resto do ano. Tal como acontece na quase totalidade das cidades alemãs e nas principais cidades francesas e espanholas, já era altura de em Portugal se criar a carreira de organista nas principais Igrejas portuguesas, de modo a dinamizar a actividade cultural e a aproveitar os belíssimos instrumentos existentes entre nós – muitos dos quais têm actualmente como principal função “apanhar pó”. Vinte lugares de quadro a nível nacional para organistas/maestros não seria nenhuma fortuna e seria uma medida com consequências mais visíveis e estruturais – em concertos, formação de público e músicos amadores, espectáculos corais, animação para o turismo, recuperação de repertório, etc. – do que muitos subsídios que são oferecidos com pouco sentido estruturante.

Comentários