Terence Blanchard “Flow”



Segundo o próprio trompetista Terence Blanchard, “Flow” simboliza um estado de concentração tão alto, onde não se procura racionalizar ou analisar, e onde o indivíduo se absorve totalmente numa única actividade.

No plano musical, este “flow” resulta numa intensidade emocional, sentida ao longo de todo o álbum, e numa naturalidade de ideias musicais, que mudam sem previsibilidade, numa sequência aparentemente não racionalizada.

Os temas melódicos alternam entre momentos “cantáveis” (que são inclusivamente cantados por vezes com vocalizos do guitarrista Lionel Loueke), momentos de virtuosismo frenético pouco dado a cantorias e temas irreais experimentalistas, num fraseado pouco convencional.

A Harmonia é riquíssima e sempre inesperada nunca se tornando cansativa. É muito agradável ouvir algumas das músicas sem reparar nos temas apenas seguindo as sequências de acordes. Mas, apesar desta riqueza harmónica, um dos melhores elementos das músicas é mesmo a forma musical.

As passagens entre secções são completamente inesperadas, havendo por vezes secções que são interrompidas subitamente com contrastes do “diabo”! Por exemplo, em “Flow, Part II”, a música começa num compasso tradicional com um confiante trompete (a tocar o tema de “Flow”), acompanhado pela guitarra, bateria e baixo, num completo clima de bem-estar. Este clima é subitamente interrompido aos 11 segundos por uma secção surreal de improviso, completamente livre de compasso, onde o trompete tradicional desaparece, prolongando-se este secção de modo completamente imprevisível, onde o tema e a “ordem” só volta nos segundos finais.

Terence Blanchard, “Flow”, 61’32’’, EMI

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