Filarmónica Gil




Filarmónica Gil é o último projecto de João Gil, onde o “ex-Trovante”, “ex-Moby Dick” e “ex-Ala dos Namorados” se junta ao vocalista Nuno Norte (vencedor do primeiro “Ídolos”) e ao excelente músico multifacetado e produtor musical Rui Costa.
Como é atributo dos projectos de João Gil, este álbum é bastante melodioso e fácil de cantar pelo público; tem letras bem conseguidas emocionalmente, sobre situações quotidianas vulgares; e harmonias claras e simples, que atingem por vezes uma complexidade harmónica elevada, que, no entanto, nunca parece fora de contexto (como acontece em muitos grupos que pretendem demonstrar conhecimentos musicais elevados). Tudo isto é misturado com poucos artifícios à volta (como é típico nos songwriters).
No plano expressivo, o álbum é muito variado. É possível ouvir desde um retrato de Lisboa actual, numa espécie de fado moderno, em “Lisboa 4 Ever”, onde a letra é bem melhor do que a música; passando por uma misteriosa mensagem de tranquilidade do além em “Se eu soubesse (o que sei hoje)”, cantada por Sara Tavares; até ao grande êxito radiofónico do disco, “Deixa-te ficar na minha casa”, que é a canção onde letra e música encontram uma combinação mais bem conseguida.
A sensação de dor causada pelos sonhos e projectos de amor que ficaram por fazer “nas janelas não abertas” – uma letra muito eficaz emocionalmente –, encontra uma música simples, mas melodiosa e que não “destrói” a letra, como noutros casos do álbum (Por exemplo, o duo vocal desencontrado em “Um homem como eu” destrói completamente a letra).
No plano dos intérpretes, a voz rouca de Nuno Norte nem sempre é a mais agradável, sendo por vezes cansativa, mas funciona; as partes de guitarra de João Gil têm vários níveis de qualidade, desde o acompanhamento acústico em rasgados muito ouvidos e aborrecidos, até aos arpejos muito belos com sequências harmónicas de bom nível; e os efeitos e arranjos de Rui Costa, trazem alguma variedade musical ao álbum, que sem eles ficaria provavelmente algo monótono.
Uma última nota para a música intimista que encerra o álbum – “Teus olhos viram por fim” –, onde um solitário João Gil canta uma bela canção sobre aquele momento de amor, que quase todos já passámos, em que os olhos transmitem o que sentimos à pessoa amada. Infelizmente, nem sempre o resultado é positivo, tal como na canção.

Filarmónica Gil, “Filarmónica Gil”, 41’05’’, EMI

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