Toranja “Segundo”





Apesar do pouco tempo de existência, o grupo Toranja detém já um curriculum invejável, em que os factos falam por si: um Globo de Ouro para a melhor canção «A Carta»; 30000 CD’s vendidos do álbum “Esquissos”; uma digressão de 126 espectáculos; e um espectáculo no Auditório Keil do Amaral presenciado por mais de 20000 pessoas.
O sucesso atingindo pelo grupo não é fácil de explicar, principalmente num período marcado pela crise internacional da indústria discográfica. Existem muitos grupos musicais com melhor qualidades instrumentais que os Toranja; com melhores vocalistas; e mesmo com melodias mais fáceis de cantar e de ser “apropriadas” pelo “grande público”. No entanto, o que os outros grupos musicais portugueses habitualmente não têm é a enorme qualidade poética presente nos discos dos Toranja.
Há um prazer pela palavra e pela emoção que cada verso transporta nas suas canções, que é muito bem acompanhado musicalmente, embora nem sempre os recursos musicais do grupo estejam à altura da sua criatividade literária. Com isto não se quer afirmar que o grupo é muito limitado musicalmente. Pelo contrário. A vertente literária é que é de um nível extraordinário para o universo do pop/rock português e mesmo internacional (a quantidade de pretensos “songwriters” que estão a anos de luz dos Toranja e que dificilmente chegarão a atingir o nível que este grupo português já atingiu num tão curto espaço de tempo).
Inclusivamente, muitas das letras do novo disco dos Toranja – “Segundo” – podem ser lidas como autênticos poemas (de quantos grupos poderemos dizer o mesmo?). A canção “Ensaio” é talvez um dos melhores exemplos. A letra pode ser perfeitamente declamada sem a música composta pelo grupo e sem com isso desaparecer a raiva, desespero, sufoco e solidão aí presentes. No plano geral, todas as letras do álbum têm um nível emocional forte, que é acompanhado por uma escrita trabalhada estilisticamente, muito subjectiva e inspirada na sonoridade das palavras (ficando o sentido por vezes extremamente ambíguo).
Esta marcada vertente literária torna complicado definir musicalmente o grupo, visto que as suas características musicais mudam muito consoante o universo poético de cada canção. Por exemplo, a sonoridade musical distorcida e frenética de “Ensaio” acompanha a raiva e desespero da letra, mas esta sonoridade desaparece completamente na canção “Tempos Adversos”, em que a marcada fragilidade emocional da letra é retratada musicalmente por um canto lento, suave e intimista, que é apenas substituído no refrão por uma “voz” um pouco mais corajosa – mas não muito mais –, que apela à necessidade de continuar a vida.
Como curiosidade, o álbum contém um extra após a última canção, “Contos”. O extra é a repetição da faixa n.º 4 “Música de Filme”, que reaparece no fim numa versão para canto e piano um pouco mais intimista.

Toranja, “Segundo”, 52’21’’, Universal

Comentários

Rui Fernandes disse…
é caetera!
Rui Fernandes disse…
não caetara (na lista de blogs)