Jessye Norman “The Jessye Norman collection” I




A cantora Jessye Norman tem realizado uma carreira pautada pela procura constante de novos repertórios, que a leva ao estatuto de “lenda viva”. Desde a década de 70, a cantora dedicou-se ao grande repertório operático, a quase todos os tipos de canções dominantes no mundo ocidental e ao mundo experimentalista da música clássica contemporânea, tendo actuado nos melhores teatros de ópera e salas de concerto do circuito internacional.
Este ano, a Universal lançou uma colecção de cinco CD’s duplos que expressa bem a carreira multifacetada da cantora no domínio do género canção. Esta colecção, intitulada “The Jessye Norman collection”, inclui canções francesas do século XIX e XX, canções americanas (pop, jazz e clássicas), canções sacras europeias e espirituais americanos, canções alemãs do século XIX e um álbum de canções acompanhadas por orquestra, de Richard Strauss.
Ao longo das próximas semanas, vamos aqui falar individualmente de cada um dos álbuns duplos da colecção, começando esta semana por um álbum dedicado à canção artística alemã (Lied) do século XIX. O Lied alemão, principalmente ao longo do século XIX, ganhou fama por toda a Europa de então, sendo um produto cultural considerado como um símbolo do alto refinamento intelectual da música e dos músicos alemães. Rapidamente, este tipo de canção passou as fronteiras germânicas e foi cultivado em vários países europeus: França, Rússia, Inglaterra, Noruega, Espanha, Portugal, e um pouco por toda a Europa.
Uma das principais características do Lied alemão, que tanto atraiu os músicos de todo o mundo – e ainda atrai –, é ter o ponto de partida musical no poema. Deste modo, cabe ao músico escolher poemas de poetas consagrados e realizar uma tradução musical, que expresse correctamente as várias expressões salientes no poema e o próprio seccionamento poético (ao qual deve corresponder o seccionamento musical).
Neste álbum, constam canções de dois dos maiores compositores germânicos, que representam perfeitamente as características do género no seu melhor período (o período romântico): Johannes Brahms (1833-1897) e Robert Schumann (1810-1856). Ao longo dos dois álbuns, é possível ouvir poetas românticos – Heinrich Heine, Gottfried Keller, Klaus Groth, Joseph von Eichendorff, entre muitos outros –, em traduções musicais que procuram salientar algumas das principais atracções emocionais que marcaram o período romântico: a atracção por terras distantes (em Schöne Fremde – Bela terra estrangeira); a atracção pela natureza nocturna (em Mondnacht – noite de luar); a atracção pelo tema da morte (em Der Tod, das ist die kühle Nacht – A morte é uma noite fresca); a ideia do amor eterno (Von ewiger Lieber – Do amor eterno).

Jessye Norman, “The Jessye Norman collection”, 2 CDs, Universal

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