O novo álbum do songwriter Jack Johnson “In Between Dreams” tem um teor leve e bem disposto, que é por vezes salpicado com algumas críticas à religião, à comunicação social, à guerra do Iraque, e uma ou outra melancolia amorosa.
Infelizmente, Jack Johnson não é grande guitarrista, mas as suas enormes lacunas técnicas são muito bem atenuadas e disfarçadas por uma voz de bom timbre e melodias de ritmos enérgicos, onde as palavras ganham aqui e acolá uma vida que apetece acompanhar com a nossa voz.
De um modo geral, a guitarra e a percussão acompanham solitariamente o cantor, perturbando o piano doseadamente os acompanhamentos (a bem dizer, as partes de piano são também muito fracas tecnicamente e dispensáveis, mas não se pode afirmar que fiquem mal). A verdade tem de ser dita: a riqueza do álbum não está nas partes instrumentais.
A fertilidade de Jack Johnson encontra-se na riqueza e maturidade das suas letras, que apresentam num só álbum, um extenso arco-íris de emoções, acompanhadas musicalmente com bastante bom senso, mas poucos conhecimentos musicais.
No plano amoroso mais positivo, salientam-se “Better together” – onde o amor é apresentado como resposta para tudo, inclusivamente para o sentido da vida –, “Banana Pancakes” – em que o rapaz diz à amada que a solução feliz para um dia de chuva é ficar em casa a comer... – e o quase country “Do you remember” – sobre as boas lembranças trazidas por um amor adolescente. No plano amoroso mais negativo, destaca-se a canção que foi a “imagem” do álbum, “Sitting, waiting, wishing”, que aborda o fim de uma relação amorosa e o rapaz critica o facto de a rapariga o deixar à espera e à sua mercê. Não se faz a ninguém.
No plano da intervenção social, salientam-se “Crying Shame” – onde é criticada a “guerra pela paz” –, “Never Know” – excelente melodia, onde Johnson censura a sabedoria enganadora da religião –, e a minha preferida, a canção “Good people”, em que são criticados com alguma ironia os programas de TV. É fantástica a maneira como Johnson ao “mudar os canais de TV” afirma ironicamente num refrão muito saboroso: “onde vão todas as boas pessoas”
Ao longo do álbum, há ainda espaço para algum humor na canção em estilo de bossa nova “Belle” e para uma homenagem a um amigo falecido em “If I could”. Um bom álbum. Não é excitante. Mas é um bom álbum.
Jack Johnson, In Between Dreams, 41’00’’, Universal
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