Dee Dee Bridgewater “J’ai deux amours”





Dee Dee Bridgewaters pertence a uma primeira divisão da música mundial. Desde os primeiros grandes sucessos no mundo do jazz nos anos 70, passando pelos anos de atracção ao pop na década de 80, até à carreira que foi desenvolvendo paralelamente no teatro musical, a cantora norte-americana parece não saber fazer música de má qualidade. O novo disco “J’ai deux amours” não foge à regra.
O disco é um tributo da cantora à cultura de França, país onde viveu uma longa temporada. Todas as canções têm origem francesa (excepto “Dansez sur moi”); são cantadas na língua original; e o álbum tem um teor geral algo nostálgico, porventura por ser um “disco-tributo”.
O ponto de partida musical é naturalmente a França, mas Dee Dee Bridgewater vai muito mais longe, moldando as canções francesas com diferentes “aspectos musicais”: em jazz norte-americano, em flamenco espanhol, em bossa nova brasileiro, em tango argentino, entre outros estilos. Um bom exemplo disso é logo a abertura do álbum com “Jo in a Blues”, logo seguido, sem parar, por “J’ai deux amours”. A primeira, tocada apenas pelo acordeão, parecer afirmar-nos «o ponto de partida é Paris»; e “J’ai deux amours” diz-nos que o destino é o restante mundo, à maneira de Dee Dee.
No plano dos instrumentistas, o álbum é excelente. A voz de Dee Dee – apesar de dispensar apresentações e qualificações – é de uma beleza timbrica invulgar nos graves (graves de veludo) e tem uma expressão maravilhosa que consegue salientar e clarificar as emoções de tudo o que está a cantar: é forte sem ser bruta nos momentos fortes (“Avec le temps” e “Ne me quitte pas”); é triste de doer a alma quando o texto pede (“La belle vie”); e tem uma alegria contagiante quando a música o exige (“La mer”). O guitarrista Louis Winsberg tem uma flexibilidade musical fantástica em vários estilos, que até causa inveja: é bom em jazz; igualmente bom no estilo clássico; domina razoavelmente o estilo flamenco; e ainda tem o descaramento de ser bom em bossa nova. Os restantes músicos do quinteto principal são igualmente fantásticos (Marc Berthoumieux – acordeão; Ira Coleman – baixo; Minino Garay – percussão).
Para os apaixonados por Jazz, a versão de “Autumn Leaves” deste disco (intitulada na sua versão original “Les feuilles mortes”) é uma agradável surpresa – a melodia conhecida só aparece a meio da música num excelente arranjo de Louis Winsberg; e o arranjo da famosa canção de Piaf “La vie en rose”, marcada por um baixo que marca um bater acelerado do coração é completamente apaixonante, tal como todo o disco. Imprescindível para os amantes do Jazz e de França.

Dee Dee Bridgewater, J’ai deux amours, 56’28’’, Universal

Comentários

Um Vicente disse…
Eu tenho dois amores? Faz-me lembrar uma canção de minha juventude...

O teu post deu-me vontade de ouvir o Louis, principalmente pelo descaramento de ser bom em bossa nova.

Vou tentar divulgar o teu blog!
Unknown disse…
Gracias Nuno.