
Apesar de ser italiana, Chiara Civello está radicada há algum tempo nos Estados Unidos. Aí aprofundou os seus conhecimentos de jazz e de música brasileira, aos quais uniu um pouco do estilo pop, tornando-a numa cantora/compositora ecléctica – um pouco à imagem de alguns novos cantores da área do jazz, que se aproximam do mundo pop no qual foram criados e se sentem atraídos pela música da américa latina.
Este disco, “Last Quarter Moon”, reflecte bem esse eclectismo. Do domínio do jazz, destaca-se a harmonia (o tipo de acordes e encadeamentos que utiliza) e a melodia (tipo de ritmo e acentuações da melodia e as notas musicais que a cantora sustém sobre os acordes – constante evitar das notas da tríade); do pop, é evidente a utilização de padrões melódicos mais simples, fáceis de cantar, frequentemente repetidos e a forma habitual da canção pop; da América Latina, no caso específico do Brasil, a métrica de algumas músicas e o acompanhamento rítmico.
No plano instrumental e do contraste formal, para evitar a monotonia, Chiara Civello recorre frequentemente à alternância entre o universo mais intimista do canto/piano e o “grupo de jazz” completo – guitarra, bateria, baixo – mais canto/piano. De resto, ainda no plano formal, poucas novidades, seguindo a cantora as formas habituais do género canção (introdução instrumental, estrofe, refrão, interlúdio instrumental, estrofe, etc.).
O espírito geral do álbum é de extrema melancolia, perda, dúvidas, medos e outras emoções negativas, salvando-se a música instrumental “Sambaroma”, que é um dos poucos momentos ligeiros e bem dispostos do disco. É caso para dizer que a capa é enganadora, visto que a Chiara Civello que ali se encontra a rir, não aparece em nenhum momento do disco. Quem procurar boa disposição de alma, não a vai encontrar aqui. A acreditar pelo espírito geral do disco, Chiara Civello é uma alma a passar por momentos tortuosos. Em “here is everything”, é expressa a nostalgia por um amor perdido; na faixa seguinte, “The wrong goodbye”, o “eu” da canção pede (aos Deuses?), para não receber um “não” do empregado de bar que lhe parece um deus do amor; em “Trouble” são os problemas emocionais de uma relação tão negativa que ela já não suporta a presença dele. Aqui, convém salientar que, curiosamente, à raiva expressa na letra de “Trouble” corresponde uma música nostálgica algo distante da emoção da letra, o que nos leva a uma conclusão que se aplica a todo o álbum: Chiara Civello parece um pouco presa a um ambiente musical nostálgico, ao qual tem alguma dificuldade de sair.
Chiara Civello, “Last Quarter Moon”, 48’23 ’’, The Verve Music Group
Comentários
Quanto à melancolia, é apenas influência do jazz.
A música não precisa ser alegre para ser bela.